*espero que consigam sentir o mesmo que senti ao escrever esse conto
Tudo parece como nas outras vezes. O mesmo lugar, as mesmas pessoas, as mesmas palavras de incentivo, enfim... Igual. E como todas às vezes, sinto como se hoje fosse um dia especial, diferente. Apesar de todos os dias eu sentir essa mesma sensação e nada de diferente acontecer.
Mas hoje precisa ser um dia diferente, pois é nisso que acredito. É para conquistar um novo passo na vida que acordo todos os dias, repleto de esperança e dedicação. Meu suor é dedicado a esse passo, minha cabeça lateja e a enxaqueca às vezes me faz desistir de tentar. Mas hoje não, pois hoje será um dia diferente.
Os preparativos de sempre são feitos, como se em um ritual. Fazemos os exercícios, alongamos nosso corpo e preparamos nossa cabeça pra aquilo que está por vir. Sabemos que após conquistar o primeiro passo, teremos muitos outros desafios pela frente, mas esse será o começo. Meu recomeço.
O chão é cuidadosamente preparado com um quebra cabeça acolchoado, como se fosse para receber crianças. Ao longo do trajeto – sim, mesmo sem eu ter conquistado nada, o trajeto é montado por completo –, os corrimões são fixados. Visto o meu melhor tênis, pois é com ele que pretendo seguir minha jornada. Religiosamente sou levado ao começo do percurso, e do lado de fora do corrimão, todos se aproximam para assistir. Enfermeiras, médicos, outros pacientes, mas para meus olhos, todos são meus amigos. Todos os dias fazemos isso uns pelos outros. Nós torcemos.
Chega o momento, aciono os freios da cadeira e o silêncio é a única coisa que habita o ambiente. Mesmo assim, posso ouvir o pensamento de muitos. As palavras, os votos de força e confiança. Todos torcem por mim. Todos nós torcemos para aquele que está aqui. Firmo minhas mãos nos apoios da cadeira e com um tremendo esforço consigo me erguer. A próxima etapa é a mais difícil e é onde eu sempre sou derrotado: o momento em que tiro as mãos do apoio da cadeira e tento me apoiar nos corrimões.
Mas hoje é um dia diferente e sei que vou conseguir. Sinto isso todos os dias. O suor escorre de minha testa e sob minhas axilas. Não é calor, é um suor gelado... Mas também não é medo.
Não sei explicar, mas é fruto de uma ansiedade que consome nosso corpo. Minha enfermeira fica bem próxima, mas ela sabe que não deve interferir. Somente quando eu cair ao chão é que ela deve partir para o meu socorro, antes disso, não.
Meus braços tremem, pois jogo sobre eles o peso do meu corpo. Lembro-me dos conselhos que ouço todos os dias. O peso deve ser jogado sobre minhas pernas, são elas que devem me sustentar. Faço isso, e elas tremem mais que meus braços. Divido o peso e preparo para concentrar a força em um dos lados, é o momento de tentar alcançar o corrimão. Meu braço esquerdo e minha perna esquerda são duramente exigidos, é sobre eles que lanço a carga de todo meu corpo. Agilmente solto o suporte da cadeira e lanço-me para o corrimão. Meu braço direito se flexiona, por pouco não cedo ao peso. Fazendo cachoeiras de suor escorrer do meu corpo e usando toda minha força, consigo me restabelecer.
Agora é o momento que costumo falhar – sou canhoto -; meu braço direito não consegue suportar o peso de todo meu corpo. Mas hoje, é um dia especial e sei que vou conseguir. Sinto isso, todos os dias, mesmo depois de falhar. Hoje, vai acontecer!
Ajeito o punho, asseguro-me que o corrimão está firme sob minha mão. Mais uma vez, lembro-me de colocar o peso sobre minhas pernas, são elas que devem me sustentar. Alivio meus braços, jogo meu corpo sobre o lado direito e avanço. Largo o apoio esquerdo da cadeira e me arremesso em busca do corrimão. Aquele momento parece eterno, mas foi a mesma fração de segundo de ontem. No momento em que vejo minha mão se aproximando do corrimão, no instante seguinte ele foge de mim. Meus dedos ficam longe, pois, assim como ontem, meu lado direito não foi capaz de sustentar o peso e cedeu. Meu corpo foi caindo para a direita e só me dei conta quando o baque chegou aos meus ouvidos. O rosto colado no chão macio, aquele ligeiro formigamento nos braços cansados e uma sutil dor no quadril.
A mesma história de ontem. A enfermeira veio ao meu auxilio, erguendo-me do chão. Fui colocado gentilmente na cadeira sob uma enxurrada de perguntas. Sim, eu estava bem, assim como ontem. Os mesmos conselhos, as mesmas palavras de confiança e força. Todos aplaudiram, como todos os dias. Como sempre fazemos diante do esforço e dedicação de cada paciente que se arrisca a dar um passo. O primeiro passo daquilo que será apenas o começo de tudo.
Deito a cabeça no travesseiro e, poucos instantes antes de cair no sono, sinto algo no peito. Sinto a mesma coisa que senti na noite passada... Sinto que amanhã será um dia diferente. Sinto que amanhã, darei o meu primeiro passo...
Mas hoje precisa ser um dia diferente, pois é nisso que acredito. É para conquistar um novo passo na vida que acordo todos os dias, repleto de esperança e dedicação. Meu suor é dedicado a esse passo, minha cabeça lateja e a enxaqueca às vezes me faz desistir de tentar. Mas hoje não, pois hoje será um dia diferente.
Os preparativos de sempre são feitos, como se em um ritual. Fazemos os exercícios, alongamos nosso corpo e preparamos nossa cabeça pra aquilo que está por vir. Sabemos que após conquistar o primeiro passo, teremos muitos outros desafios pela frente, mas esse será o começo. Meu recomeço.
O chão é cuidadosamente preparado com um quebra cabeça acolchoado, como se fosse para receber crianças. Ao longo do trajeto – sim, mesmo sem eu ter conquistado nada, o trajeto é montado por completo –, os corrimões são fixados. Visto o meu melhor tênis, pois é com ele que pretendo seguir minha jornada. Religiosamente sou levado ao começo do percurso, e do lado de fora do corrimão, todos se aproximam para assistir. Enfermeiras, médicos, outros pacientes, mas para meus olhos, todos são meus amigos. Todos os dias fazemos isso uns pelos outros. Nós torcemos.
Chega o momento, aciono os freios da cadeira e o silêncio é a única coisa que habita o ambiente. Mesmo assim, posso ouvir o pensamento de muitos. As palavras, os votos de força e confiança. Todos torcem por mim. Todos nós torcemos para aquele que está aqui. Firmo minhas mãos nos apoios da cadeira e com um tremendo esforço consigo me erguer. A próxima etapa é a mais difícil e é onde eu sempre sou derrotado: o momento em que tiro as mãos do apoio da cadeira e tento me apoiar nos corrimões.
Mas hoje é um dia diferente e sei que vou conseguir. Sinto isso todos os dias. O suor escorre de minha testa e sob minhas axilas. Não é calor, é um suor gelado... Mas também não é medo.
Não sei explicar, mas é fruto de uma ansiedade que consome nosso corpo. Minha enfermeira fica bem próxima, mas ela sabe que não deve interferir. Somente quando eu cair ao chão é que ela deve partir para o meu socorro, antes disso, não.
Meus braços tremem, pois jogo sobre eles o peso do meu corpo. Lembro-me dos conselhos que ouço todos os dias. O peso deve ser jogado sobre minhas pernas, são elas que devem me sustentar. Faço isso, e elas tremem mais que meus braços. Divido o peso e preparo para concentrar a força em um dos lados, é o momento de tentar alcançar o corrimão. Meu braço esquerdo e minha perna esquerda são duramente exigidos, é sobre eles que lanço a carga de todo meu corpo. Agilmente solto o suporte da cadeira e lanço-me para o corrimão. Meu braço direito se flexiona, por pouco não cedo ao peso. Fazendo cachoeiras de suor escorrer do meu corpo e usando toda minha força, consigo me restabelecer.
Agora é o momento que costumo falhar – sou canhoto -; meu braço direito não consegue suportar o peso de todo meu corpo. Mas hoje, é um dia especial e sei que vou conseguir. Sinto isso, todos os dias, mesmo depois de falhar. Hoje, vai acontecer!
Ajeito o punho, asseguro-me que o corrimão está firme sob minha mão. Mais uma vez, lembro-me de colocar o peso sobre minhas pernas, são elas que devem me sustentar. Alivio meus braços, jogo meu corpo sobre o lado direito e avanço. Largo o apoio esquerdo da cadeira e me arremesso em busca do corrimão. Aquele momento parece eterno, mas foi a mesma fração de segundo de ontem. No momento em que vejo minha mão se aproximando do corrimão, no instante seguinte ele foge de mim. Meus dedos ficam longe, pois, assim como ontem, meu lado direito não foi capaz de sustentar o peso e cedeu. Meu corpo foi caindo para a direita e só me dei conta quando o baque chegou aos meus ouvidos. O rosto colado no chão macio, aquele ligeiro formigamento nos braços cansados e uma sutil dor no quadril.
A mesma história de ontem. A enfermeira veio ao meu auxilio, erguendo-me do chão. Fui colocado gentilmente na cadeira sob uma enxurrada de perguntas. Sim, eu estava bem, assim como ontem. Os mesmos conselhos, as mesmas palavras de confiança e força. Todos aplaudiram, como todos os dias. Como sempre fazemos diante do esforço e dedicação de cada paciente que se arrisca a dar um passo. O primeiro passo daquilo que será apenas o começo de tudo.
Deito a cabeça no travesseiro e, poucos instantes antes de cair no sono, sinto algo no peito. Sinto a mesma coisa que senti na noite passada... Sinto que amanhã será um dia diferente. Sinto que amanhã, darei o meu primeiro passo...
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