terça-feira, junho 28, 2011

Não ligo!

Não adianta chorar, insistir ou espernear. Não perca seu tempo sentada na poltrona, sofá ou ao lado do criado mudo com os olhos pregados no telefone. Você pode usar as técnicas do “segredo” e tentar mudar o universo com a mente, mas se o telefone tocar, tenha certeza; saiba de antemão, que não sou eu do outro lado da linha.
Você já pediu uma, duas, três centenas de vezes. Já gastou presente de aniversário, natal e dia dos namorados pedindo um telefonema. Você já simulou um acidente, uma emergência e até “matou” alguns parentes para ver se eu ligava. Nada disso adiantou. O telefone não tocou.
Você me liga com certa freqüência e toda vez que vejo você ligando, o sorriso rasga o meu rosto e transbordo de alegria. Adoro ouvir sua voz, sinto saudade da sua presença constantemente. Quando me liga, essa saudade diminui, assim como a falta que sinto de você. Quando não posso te abraçar, adoro ouvir sua voz.
Mas não adianta fingir que está sem crédito, ou simular um baixo sinal. Se por acaso você entrar no túnel, ou se enfiar no mais profundo subsolo de um shopping ou estacionamento, nós dois sabemos que o túnel irá acabar em algum momento, assim como você voltará à superfície depois de passar pelo subsolo. E quando isso acontecer, você pode me ligar novamente. Pode não, deve! Pois sinto sua falta. Sua voz me tranqüiliza e me faz bem.
Não entenda mal as minhas palavras, o que sinto por você é mais forte do que qualquer outra coisa. Eu só não vou te ligar. Prefiro pegar meu carro e ir ao seu encontro.
Mas quero que saiba de uma verdade. Meus dedos coçam, minha garganta seca e minhas mãos ficam molhadas. É assim que me sinto o dia inteiro, na constante angústia e ânsia de pegar o telefone e te ligar. Sim, é verdade. Pois eu sinto sua falta e quero ouvir sua voz. Mas não quero me tornar um cara chato. Sei lá. É isso que passa na minha cabeça. É por isso que eu não ligo. Pois sei que você sente o mesmo e vai acabar ligando.
Mas no dia que você for mais forte; no dia em que você conseguir resistir ao aperto da saudade que pressiona o nosso peito... O dia em que você não me ligar, admito que eu não serei forte o bastante para suportar.
Nesse dia, eu vou pegar o telefone e matar a saudade que sinto discando o seu número.

terça-feira, junho 21, 2011

Homem de Valor

Todos nós, seres humanos, temos uma vida cheia de histórias para contar. Nosso dia-a-dia, a cidade em que vivemos, as pessoas que conhecemos, tudo nos coloca em situações das quais marcam a nossa memória.

Nasci nessa metrópole e aprendi a viver nela; outros aprenderam a sobreviver nela, e muitos, morreram nela. Eu não morri, nem mesmo sobrevivi. Eu apenas vivi – e ainda vivo.

Estudei até a sexta série e mesmo assim atuei em diversas profissões. Fui segurança, fui vendedor, fui empresário, fui engenheiro e cozinheiro. A lista seria muito maior se tivéssemos espaço; a lista seria muito menor se eu tivesse cursado uma faculdade. Em nenhuma dessas profissões eu fui funcionário; sempre fui o dono do meu próprio negócio.

Deve estar se perguntando como consegui tudo isso sem estudo, não é? Digo-lhe que para se viver nessa cidade é preciso se esforçar, é preciso aprender a viver e não a sobreviver. Irei dizer como vivi nesses empregos que passei. Mostrarei a vocês como criei os meus valores sem ter estudo adequado.

Casei cedo e o nascimento de meu filho fez com que eu buscasse uma forma de sobreviver nessa enorme cidade. Com o pouco dinheiro que tinha, eu comprei material de construção e ergui a minha casa. Não tive ajuda, nunca fui instruído, mas fiz minha casa e me orgulho em dizer que ela ficou estável, segura. Mesmo com as terríveis chuvas que freqüentemente destroem casas, ela permaneceu de pé. Firme. Hoje, muitos anos se passaram, e a cada novo dia eu afirmo com orgulho: “Sou um engenheiro”.

Precisava de dinheiro para sustentar minha família, e como eu não tinha trabalho e nem qualificação decidi fazer o meu próprio dinheiro ao invés de arranjar um emprego. É importante dizer que nunca roubei. Não seria capaz de fazer algo desse tipo. Comecei a freqüentar o parque do Ibirapuera, e próximo das entradas eu me oferecia para cuidar dos carros. Algumas vezes consegui impedir os veículos de tomarem multa dos ‘marronzinhos’, e alegro-me em dizer que cheguei a evitar um assalto. Naquele dia eu me senti um herói, mas eu era apenas um segurança. Apenas um segurança de carros.

Pensei em agregar valores e tentar conseguir dinheiro de uma forma que não fosse tão ‘fácil’, tão ‘cômoda’. Queria me aproximar das pessoas, ter novos desafios. Comecei a comprar água e refrigerantes a preço de atacado e a revendê-los no interior do parque. Aquilo fez com que eu tivesse um maior contato com as pessoas e fez com que eu ficasse satisfeito. Aprendi a lidar com o dinheiro, aprendi a negociar e a dar descontos. Aprendi a ser educado, a sorrir e a ganhar clientela com esses diferenciais. Eu tinha me tornado em um vendedor.

Minha esposa se contagiou com meu contínuo sucesso profissional e com os valores que eu agreguei em minhas características pessoais. Ela notou que eu tinha me tornado em uma pessoa melhor e quis o mesmo para si. Aprendemos juntos a cozinhar e a preparar diferentes tipos de comida. Fizemos lanches, doces e salgados para vender. Nossos pontos de atuação se tornaram mais abrangentes e além do parque do Ibirapuera atuamos no parque Dom Pedro, concorrendo com barracas que ofereciam hot-dog com duas salsichas por preços realmente baixos. Vendemos ao lado de eventos, de festas, de shows e de qualquer outro lugar que pudesse render algum lucro. Nós já éramos cozinheiros.

É importante dizer que nessa época eu já não mais sobrevivia. Mesmo tendo um filho para criar e contas atrasadas para pagar, eu tinha meu lar e eu criei a minha profissão, eu construí uma família. Eu soube ser uma pessoa feliz com tudo aquilo que aprendi.

Próximo à famosa 25 de março eu abri o meu negócio e me tornei um empresário. Tinha uma pequena barraca na rua e vendia inúmeras coisas. Sofri com investidas da polícia, e me iludi com as promessas dos políticos, mas mesmo assim eu passei por isso. Passei vivendo a vida nessa grande cidade e não sobrevivendo a ela, como muitos outros que tiveram uma história parecida com a minha.

Sabe qual é a diferença entre viver e sobreviver? É o quanto você leva consigo das experiências que teve. Não trouxe comigo apenas os conhecimentos profissionais que adquiri ao longo dos anos. Eu trouxe amigos, eu trouxe clientes, eu trouxe sorrisos e boas lembranças. Trouxe experiência, e com isso tudo eu consegui dar alimento, teto e carinho para meu filho e minha esposa. Eu encontrei dificuldades ao longo da vida, e a todas elas superei. E tive que superar na mesma velocidade alucinante que rege o tempo nessa cidade que não dorme. Eu vivi.

Não irei mencionar os reparos nos encanamentos, no cabeamento elétrico e nos inúmeros serviços gerais que prestei na região que moro. Não irei relatar o quanto me orgulhei ao poder ensinar alguns amigos a ler. Nem será preciso dizer que os móveis da minha casa foram construídos por mim mesmo com a utilização de ferramentas emprestadas. Numa outra oportunidade contarei como consegui atender todas as exigências de uma criança sem torná-la em uma criança mimada.

São muitas as histórias, foram muitas dificuldades. Mas para cada uma delas, eu tenho um final feliz e isso não importa o quanto tive que lutar para que chegasse em um final feliz. Às vezes o meu trabalho não é reconhecido, mas eu sempre estive perto das pessoas de maiores poderes aquisitivos; mesmo estas não me notando. A cidade de São Paulo é uma mãe bondosa que abriga de braços abertos gente de todos os tipos. Eu sou uma delas e não teria vivido se não fosse aqui. Se fosse outro lugar, talvez eu teria sido mais um que sobreviveu a uma grande cidade; ou mais um que morreu na mesma. Mas uma coisa é certa, essa cidade não seria melhor sem os profissionais liberais. Não seria possível viver nessa cidade se não fossem os vendedores, os seguranças, os cozinheiros, os engenheiros, os marceneiros e os empresários. Essa cidade não seria a mesma se não tivesse homens de valores.

Hoje eu não mais administro o meu negócio, mas estou com a minha mente trabalhando ativamente. Aprendi a dar valor para as coisas e com isso, aprendi a ter valor. Sou um homem de valor e estou juntando a minha criatividade com os inúmeros recursos e oportunidades que essa São Paulo me oferece para saber qual será minha especialidade de amanhã.

Nunca me senti um desempregado em nenhum momento da minha vida, pois sempre lutei para conseguir as coisas sem depender dos outros, e de uma forma honesta. Eu sou um homem de valor, e com minha criatividade eu estudo, planejo e me preparo, pois amanhã, eu posso ser aquilo que eu quiser...

terça-feira, junho 14, 2011

Preço de um pedido

"Acho que sou feliz,
pois conquistei as coisas
que sempre desejei.
Que sempre sonhei.

Ao ver você,
me realizo.
E pelo seu olhar,
me hipnotizo.

Se precisar de paz.
Se precisar de amor.
Se precisar de segurança,
eu lhe darei!

Quando dormir,
irei te vigiar.
Quando sorrir,
irei te observar.

Trarei-lhe a calma,
e a confiança.
E se também quiser,
darei-lhe a esperança.

Basta querer.
Basta pensar.
Eu te ouvirei,
não precisa me chamar.

Mas...

Se pedir o meu carinho.
Se pedir o meu afeto.
Se pedir pelo meu ombro,
chorarei!

Se pedir para,
que eu seque suas lágrimas,
ou que a abrasse forte.
Não resistirei!

Vou chorar.
Vou gritar.
Vou odiar,
aquilo que sou.

Como pode ser possível,
um anjo da luz amar?

Vou me odiar.
E se possível,
acabar com tudo.
Apagar minha luz.

Só para poder te abraçar.
Só para poder te tocar.
Só para sentir em você,
a vida que não existe em mim!"

terça-feira, junho 07, 2011

Crianças a se pensar

"Levanto durante a madrugada.
Entro em nosso quarto
e verifico se continua dormindo.

Volto para a sala.
Recolho os cacos de vidro,
e coloco os móveis de volta em seus lugares.

As crianças estão dormindo,
e eu dou mais um passo em direção a porta.
A cada nova briga,
eu avanço um novo passo.

Mas existem desafios a serem superados.
Existem duas crianças para se pensar,
e por elas eu ainda não alcancei a porta.

Amanhã você irá se arrepender,
de tudo que disse e fez.
É sempre assim que acontece.

Novos copos serão comprados,
e os móveis serão consertados.
Mas a cada nova briga,
eu avanço um passo.

As crianças estão dormindo,
você não pensa nelas?
Existem duas crianças para se pensar,
e por elas eu ainda não alcancei a porta.

É por elas que eu continuo aqui..."