quinta-feira, dezembro 31, 2009

Renova-se

Dez
Acabe com esse sentimento do novo!
De novo!
Nove
Não espere o fim do ano,
Pra desejar fazer o que se deve até o fim do dia!
De novo!
Oito
Não espere o fim da hora,
Pra dizer o que já deveria ser ouvido!
De novo!
Sete
Renasça!
Não espere o fim do minuto,
Para que outro minuto recomece.
Simplesmente:
Não espere

Seis
Não é o outro ano que trará coisas boas,
Elas estão lá, é só buscá-las.
Cinco
Não são outros dias que trarão a felicidade,
É você quem a deve levar.
Quatro
Não são outras estações que te darão vida,
É a semente germinada dentro de ti!
Germine!

Três
Acabe com esse sentimento do velho!
Desmonte de tuas costas,
Estas pedras amargas do passado,
E estes obesos sentimentos rancorosos.
Dois
Apenas deixe sobre teus ombros
A sua cabeça e teu pescoço
Para que sustente teu pensamento.
E apenas ele e suas ambições!

Um
Morra o seu eu com este último segundo,
Para renascer no próximo.

Zero
E em todos os próximos.

quarta-feira, dezembro 30, 2009

E os anos passam...

De todos os implantes, o melhor é o da agonia
De todas as fugas, a melhor é a sem sentido
De todos os amores, o melhor é o não vivido
De todas as loucuras, a maior é se achar humano

Em todos anos, os mesmos desejos
Em cada sorriso, a mesma vontade
Em cada gesto, a morte disfarçada
Em cada volta pra casa, o mesmo sono

É só a mudança no calendário
De todas as páginas, a melhor é a primeira

É só mais uma esperança infundada
De todas as decepções, a maior é a última

É só um brilho a mais no céu
De todas as alegrias, a melhor é a risada

É só um pouco mais de tempo para sofrer
De todas as despedidas, a maior é a lágrima

Em todos anos, a solidão é companheira
Em cada sorriso, escondo minhas tristezas
Em cada gesto, sobrevivo meus anseios
Em cada volta pra casa, a mesma merda

terça-feira, dezembro 29, 2009

Por que não mudamos?

É tão engraçado. Planejamos e nos preparamos para um momento tão curto e especial, que me causa o riso. Viagens à praia, ao sítio ou a casa de alguns parentes distantes. Fazemos questão de estar ao lado de pessoas que gostamos – mesmo sempre tendo aquela tia chata que não fazemos a menor questão de encontrar.
Compramos roupas novas, fazemos simpatias, pulamos ‘ondinhas’ – maldita tradição, eu nunca sei contar essas ondas direito – e pra quê? Escolhemos a cor da roupa, pensando naquilo que queremos para nós mesmos. Alguns enchem a cara, desabam na areia e não sabem nem mesmo dizer o que aconteceu. Outras tradições ofertam presentes à Iemanjá.
Seja qual for o Deus, seja qual for a tradição, tudo isso não passa de papo furado. Somos seres humanos pensantes (assim espero!) e temos total consciência do que está acontecendo.
Por que não paramos esses segundos para observar as estrelas e dar um abraço em alguém que gostamos todos os dias de nossas vidas? Por que não desejamos e não buscamos o melhor para nós mesmos a cada segundo de nossas vidas? Por que não dizemos às pessoas que amamos aquilo que sentimos por elas? Por que não dizemos as palavras “perdão” e “obrigado” na nossa rotina? Por que nos esquecemos de sorrir nos demais dias do ano?
É nessa época do ano em que olhamos confiante para o horizonte, certos de que seremos capazes de fazer as coisas melhores. Se existe um ano novo, também existe um mês novo e um dia novo. Pense nisso! Por que não fazemos essa festa em cada virada de mês? Já seria um progresso.
Esse mundo está cheio de sonhos e de boas intenções, mas faltam mãos, braços e sorrisos para fazer desses sonhos em ações.
Para esse fim de ano, não tenho nada a desejar. Acredito nas minhas palavras e farei de cada dia um novo dia para mudar o mundo a qual pertenço.
Existem coisas que nunca irão mudar, mas para as outras... diga-me, o que está fazendo para mudá-las?

Ano novo, cartas mortas.

Prezada senhora,
Ao entrar em casa
Vi que tinhas saído.
Foi ver os fogos, eu pensei.
Mas a barulheira é tanta, muita festança,
Que nos pensamentos também dancei.

***

Prezada senhora,
Já passam das tantas.
A casa toda já rodei.
Pus uma música e uns copos,
E embebido na ansiedade da tua chegada,
Com os festantes também pulei.

***

Prezada senhora,
A rua já silencia
Justo quando me embriaguei.
Tanta demora pro vinho bater,
Qu me pareceu que te aguardava.
Mas no fim, sozinho chutei e gritei.

***

Prezada senhora,
O céu está banhado em sangue.
As nuvens são línguas de fogo
Me lambendo esse corpo que tanto queimei.
Lá fora o calor abraça os restos da festa
E aqui dentro os restos que me tornei.

***

Prezada senhora,
E lá se vai, morre outro ano sem você.
E sobre seu corpo, se ergue o ano novo.
Para que mal nunca penses de mim,
Nem que de ti guardo rancor,
Essas cartas em fogo eu banharei.
E da tumba dos anos antigos ressucitado
Em trapos de esperanças trajado
De braços abertos te esperarei.

domingo, dezembro 27, 2009

Na virada do copo

Velho ou novo
tudo recomeça
de novo

se será nova aventura?
como todo velho ano
a dúvida perdura

deuses do além
mais um de tantos anos
agora vem

a galope e destreza
na virada do copo
só não há tristeza

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Renasce

Perdida.
Na contramão dos ideais.
No peito, soa o grito de socorro.
Expectativas de sonhos quase mortos.
Mas a esperança acende a luz de alerta.
Natal branco que não pinta flocos de neve.

Branco só é o teu gosto esquecido no meu coração.

Introspecção.
A madruga dá norte do que pode ser.
E por ora, só há tempestade.
Chuva substitui o gelo.
E não há frio...

O dia que vem é de verão.
Sol que não mais faz poesia de arco-íris.

Água.
Chuva.
Lágrimas sem sal de um céu cinza e triste.
Natal...

Chuva...
Lavando dores de ontem.
Nascendo e morrendo flores de primavera de um ciclo próximo.


Retrocesso.
Corredeiras que carregam este corpo morto.
Nascer é sempre mais doloroso.
Renascer é doer duas vezes.

Passos.
Ofegantes.
Teimosia.
Lembranças.

Os pés, ainda escravos da alma...
Pisam chão que não mais são estrelas.
Pó, poeira, chão.
Seguem.
Procuram pelo caminho que ainda não sabe se virá.

Cansa, porém, continua.

Vive.
Morre.
Nasce.
Renasce.

Mais uma vez, Natal.

Débora Andrade

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Esse Presente fui eu quem fiz

Estou de saco cheio,
Assim como Noel
Que já encheu o ano todo
Aguardando sentado
No trono dourado
O dia da virgem gestante
Dentre os outros tão menos importantes...

Desde pequeno não fico a espera do velhinho,
Faço meu presente com as próprias mãos,
Vou atrás de meus sonhos e desejos,
Faço acontecer, e faço valer
Porque sentar e esperar,
É frustrante de se ver

Hoje, nesse natal,
Mandei o velhinho pro saco
E fiz meu próprio presente
Que cativei há muito

Não preciso de mais nada esse ano
Fiz meu presente
Até mesmo a surpresa do embrulho
De descobrir o que há por dentro
E espero que continue sendo este presente
O de todos os próximos natais
Não preciso mais nada além do presente
E do futuro

Porque o presente somos nós que fazemos
Não existe Noel
Que nos dá uma vida
Ou duas.
Faça seu próprio futuro,
Fazendo seu presente.

Comece hoje!
Um feliz (re)natal!
Renasça!
O presente é o maior dos presentes!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Lá fora, as cores do Natal

A roupa tinha o branco e o vermelho já tão tradicionais e cansativos para aqueles dias. Nos olhos a tristeza carregada pelos outros dias do ano e não pelo falso espírito natalino que invade a alma das pessoas, transformando-as magicamente nas mais benevolentes figuras humanas da face da terra (sim, ironia é uma característica minha).

Nas costas, o peso daquele enorme saco, que a cada passo se tornava ainda mais pesado. Na outra mão a chave do carro (você não esperava por um trenó e renas saltitantes, não é?). Noel, que curiosamente carregava esse nome em sua identidade real, tinha um presente especial para entregar e já estava atrasado. Entrou no carro depois de acomodar o saco no banco de trás e partiu ao encontro de uma criança especial. Seria a última pessoa a ganhar um presente naquela noite, mas talvez aquela que daria a Noel a maior satisfação pessoal, ao ver seus olhos quando abrisse o saco.

Depois de praguejar o trânsito, que nem mesmo na noite de Natal dava folga na grande cidade, Noel pegou um atalho que servia mais pra economizar tempo do que propriamente encurtar a distância. Enfim, o bairro...

Seu coração disparou naquele momento. Uma sensação estranha, pois já estava tão acostumado a fazer seu trabalho, que não entendia o porque de tamanha excitação. Obviamente, os seguranças não deixariam um estranho passar pelos portões, ainda mais naquelas circunstâncias. Avisados pelo rádio, os moradores da mansão foram para o portão, seguidos de alguns policiais que se encontravam na residência. Ele não esperava por uma recepção tão calorosa assim, mas já que estava ali...

Noel ficou em silêncio diante das perguntas desconfiadas de todos. Notou os policiais com as mãos próximas às suas armas e os ignorou. Somente quando o pequeno garoto apareceu e caminhou até a mãe, segurando-a pelas saias, é que ele abriu um sorriso e fez menção em tirar o saco das costas (sim, era um grande saco). Nesse momento, policiais e seguranças já haviam sacado as armas.

Então Noel disse suas primeiras palavras, direcionadas ao garotinho de apenas sete anos, que olhava curioso para aquele homem, vestido como um médico, ou açougueiro, com suas roupas brancas manchadas de sangue por toda parte:

― Aqui está garotinho... Um presente de Natal especial para você. Espero que aprenda a não ser tão filho da puta quanto ele. - abriu o saco e derrubou seu conteúdo diante do portão - Divirta-se com os pedacinhos de seu papai querido.

Noel, homem comum que não morava na Lapônia, nem tinha habilitação para conduzir trenós puxados por renas, virou-se dirigindo-se ao carro e ignorando os avisos dos policiais. As costas da camisa branca ganharam tons mais vivos de vermelho.

Caído na grama diante da casa, um corpo e as cores do Natal: branco, vermelho e verde. Nas mãos do garotinho, um braço direito enfeitado com um laço dourado.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Presente de natal

Já era tarde da noite e o pequeno Martin teimava em ficar acordado. Seus olhos faziam um esforço tremendo para não se fechar; não deixaria passar mais um natal sem ver o Papai Noel com os próprios olhos. Precisava acreditar.
Olhava fixamente para a lareira que apagara. Não queria queimar o Papai Noel. O relógio na parede soou meia noite; os olhos do garoto se arregalaram. Se o bom velhinho não chegasse logo, Martin dormiria ali mesmo.
Um suave ruído despertou de vez o garoto. Algo estava no telhado de sua casa. Sem dúvida seriam as renas encantadas. Martin se escondeu atrás do sofá; pois não queria assustar ou surpreender o Papai Noel, queria apenas vê-lo, queria crer.
Um ruído áspero percorreu a lareira. Ele estava descendo. O garoto estava com um sorriso no rosto, mas este fora substituído por uma terrível expressão de preocupação quando o Papai Noel escorregou e caiu. Foi uma queda abafada, sem ruídos. A poeira subiu e impediu que o garoto enxergasse qualquer coisa.
Hesitou, temeu por algo ruim ter acontecido, mas logo notou que o Papai Noel estava se levantando. Ainda não era possível vê-lo, mas resolveu se aproximar, mostrar-se e oferecer ajuda.
Já estava a poucos passos da lareira, quando um sutil brilho surgiu de dentro da escuridão da lareira. Martin não conseguiu identificar o que era, mas podia arriscar que era um par de olhos.
- Pa-Papai Noel? – Sua voz saiu fraca.
- Feliz natal, Martin! – O par de olhos se estreitou. A voz era como o sussurro de um rugido.
Instintivamente o garoto recuou, mas os olhos ainda o fitavam. Estreitavam-se. E assim que saíram da lareira, surgiu um grande corpo curvado. Notou que uma roupa vermelha cobria a pele pegajosa.
Assim que a pouca claridade da janela iluminou, Martin pode ver uma grande boca, cheia de dentes afiados, saltar sobre seu pequeno corpo. O peso do Papai Noel não o incomodou por muito tempo, pois em instantes sua vida já fora tomada.
Naquele natal, Martin conheceu o Papai-Noel, e o seu presente foi a morte.
Conto escrito em Dezembro de 2003. Foi minha primeira publicação impressa. Esse conto esteve presente no Jornal da Praça nº 19, que circulava na Praça Benedito Calixto - Zona Oeste de SP.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

...e em vosso leito de morte eu vos concedo um vislumbre do natal

Já sentada à mesa (minha mente dispara em devaneios), sinto o aroma do frango assado e molho agridoce a pairar como uma nuvem, meus braços erguidos, apoiados sobre os cotovelos à espera das fartas travessas recheadas de alimentos, meu espírito borbulha nas panelas de meu estômago a ferver, ebulir e elevar os vapores dos espírito natalino para todos os poros do meu corpo, pelas minha veias, desaguando enfim em estrelas cintilantes na retina de meus olhos, através dos quais eu observo o natal desenrolar-se a minha volta como que dotado de vontade própria, e no ambiente (já não sei se é o brilho dos meus olhos) tudo fulgura, a luz dilata sutilmente em halos como se pulsasse feito um coração, bombeando na sala fluxos de serenidade mesclados com a ansiedade típica do momento derradeiro que precede a ceia de natal. À deriva nesse rio de reminiscências a pipocar atrás de minhas pálpebras, eu flutuando me sinto enuviada, um tanto tonta, sinto que só seria preciso um passo para desabar toda a estrutura mística e celeste daquela sala de jantar, ruiria comigo todo esse templo erguido em volta da árvore de natal, e então eu permaneço imóvel como uma escultura, um ode à inocência. E perdida nesses devaneios, sou levada (sempre à deriva) a virar um pouco a cabeça para o lado e, ainda fruindo o aroma da comida que agora eu juro! emana das paredes, só pode!, vejo, imponente em seu cume, a estrela de Belém, fincada no mais alto ponto da nossa árvore de tantas luzes e adornos brilhantes e coloridos a cercarem-lhe os galhos; a estrela também a emanar luz luz luz, e naquele momento me sinto como teria se sentido o espírito dos Reis Magos, a fervilhar diante do anúncio do nascimento do Rei dos Reis, incumbidos com o honroso dever de serem os primeiros a presenciar tamanho acontecimento; e nem o corrompimento do próprio menino que nasceu sob tal estrela, nem seus ensinamentos, nem o declínio do Natal podiam me arrancar de meu transe, só se destruíssem o firmamento!, pois, não duvido, só pode ser de lá que vêm tão maravilhosos odores. Ali, com minhas pequeninas e delicadas mãos de outrora, agarradas, grudadas, entrelaçadas de tanta excitação àqueles talheres, fitando a árvore brilhante coroada com a estrela-mãe, pude ver num fulgaz vislumbre o céu divinamente estrelado a banhar de uma luz prateada a imensidão de árvores da floresta que cerca o celeiro, de onde teve início tudo aquilo que, séculos depois, desaguaria na minha sala de jantar. Quando meu espírito chegou a tal ponto de efervescência que tive a impressão que se respirasse uma grama de ar eu explodiria, eis que toda a sala de jantar desaparece, a árvore devanesce e evapora, não lentamente, mas de modo grosseiro, alguém violentamente arranca todo o meu cenário, cagaram no meu rio de odores, e a tenra textura da pele de minhas mãozinhas dão lugar à sinuosas e decrépitas rugas a segurar um cigarro fedido; e diante de um espelho e através de olhos que não mais cintilam vejo uma velha horrorosa cuja tez antes tão cheia de luz hoje corroída pelo tempo aos poucos vai tombando no chão.

domingo, dezembro 20, 2009

Claus dos infernos

De que adianta
a ceia farta
se na rua
tem gente parca?

De que adianta
presente
se na rua
a presença é invisível?

De que adianta
um só bom velhinho
se na rua
temos vários?

De que adianta
esse espírito
se na rua
não existe alma?

Responda-se.

sábado, dezembro 19, 2009

Soneto Italiano

Limpo com a língua todos os caminhos do suor de teu beijo
Era como se o corpo dançasse por dentro das cores que emprestei às árvores
Ninguém vê como eu, o desmaio das línguas em nosso começo
Da pouca claridade de nossos travesseiros jogamos fora os mapas


Procurando por gemidos fiz do tom de teus olhos minha casa
Dois olhos dramáticos ardendo minha culpa em teu corpo
Na janela, um sorriso aberto viajando nas dobras coloridas de meu mundo
E no canto da boca dançam os lábios floridos que emocionam a vista

Você existe para dar efeito a minha simplicidade
Para fazer destes pulsos grandes sinos que vão ao teu encontro
Para calar os olhos em beijo único

De sambas novos e expressões lúcidas no rosto
Invadindo até que não se possa mais fechar a porta
Todos os outros são apenas fotografias perto de nossas asas soltas.


PS: Gente, não fiz em rimas o soneto pq não curto muito nem mesmo as alternadas, mas mantive a métrica e estrutura do soneto.

Claus dos infernos

De que adianta
a ceia farta
se na rua
há gente parca?

De que adianta
presente
se na rua
a presença é invisível?

De que adianta
um só bom velhinho
se na rua
temos vários?

De que adianta
esse espírito
se na rua
não existe alma?

Responda-se.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Me Faça Ficar

Se eu dormir ao lado teu,
Ao acordar quero teus olhos já despertos.
E ao flertarem os meus,
Quero ver neles todas as palavras que teu peito sente e tua boca não fala.

Quero ver um pouco de mim no teu sorriso.
E ter um pouco de nós gravado nos meus escritos.
Quero compor músicas com o embalar dos nossos sons.
Eu ouço tambores quando teu peito encosta-se ao meu.

Tenho mania de querer partir...
Mas me faça ficar...
Se tiver aconchego nos teus braços,
Sufoque no abraço os meus medos...
E espante com um canto doce toda a minha pressa...

Eu só preciso sentir que é de verdade.

Me faça ficar.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Song for Losers

She kick my ass today
But I got out and danced and sang Darin on my way
My ego nobody will destroy
New lovers! Enjoy!

If you want a time or two
I’ll give twice for you
If you like to put my feelings on a test
Get rest!

Fill my glass with double rum
And I’ll have the double of fun
Playing the Shark Beyond the Sea,
Is the time of the season for me!


dica: cante o texto imaginando o sax e o piano alucinadamente de fundo!
[texto escrito em 30.09.2009 por Paulo Roberto Alonso]

domingo, dezembro 13, 2009

Haikais


risca e rabisca
em poesia malandra
composições da vida

            xxx

a chuva que cai
não é a mesma água
que do meu olho sai

            xxx

o cheiro de pedra
mergulhou sobre mim
o homem-poeta

            xxx

a saudade quando fica
enche o meu peito
de vazio

            xxx

noite adentro
sem licença
permaneço

            xxx

o canto da flor
me cegou
com um rasgo no peito

            xxx

a cada encontro
um desencontro
na poesia

sábado, dezembro 12, 2009

Dois Verbos Mudos

Permaneci deitada olhando entre os espaços dos travesseiros e seu rosto. Ali, numa só pose reparei todos os festivais do teu corpo.
Havia um copo de café já frio em cima da mesa de cabeceira e nossas roupas todas jogadas no chão, a lâmpada apagada e minhas retinas ainda acesas. Eu olhei pra você querendo te dizer alguma coisa sobre a pontualidade das palavras e o sol que invadia as cortinas. Mas o eco entre a boca e as manhãs nascidas me fizeram fingir dormir mais um pouco. Eu lançava minha respiração na sua boca e a sua vinha na direção da minha. Absolutamente integrados e minha consciência pesando em cima desta nossa liberdade magra. Aí, você se levanta pra acender seu cigarro e falar todas as possibilidades maciças de suas frases e planos, a voz branda cai por cima de mim e o jeito das tuas mãos denunciam a similaridade de todos os homens. Um mantra incompleto reafirmado nos movimentos intranquilos das bocas e línguas. As coisas recomeçadas em si mesmas e nossas pernas tremendo. Dois mundanos com seus corpos de frente e a vontade expandindo em nosso acordo corporal. E o vício confundindo até nossas crenças. Parecíamos não olhar para lugar nenhum, sem memórias ou argumentos sufocamos na vontade de apenas continuar.
Nos despimos outra vez de tudo, os olhos fechando e nossa cena dispensada.
Meu cabelo preso e tuas mãos em minhas costas, nossos olhos sorrindo e a cama inteira constatando que somos dois verbos mudos.


PS: Desculpem a demora e o texto antigo, mas minha vida está de pernas pro ar esses dias.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

GORDA

Gosto de alface, rúcula, jiló. Um prato bem colorido, com combinações de fibras, proteínas e pouco carboidrato sempre me agradou.
Acho arroz gostoso, mas sempre achei desnecessário no prato do dia a dia. Uma vez por semana é o suficiente.
Frituras? Prefiro pratos assados. Batatas, chicknitos e pastéis: sempre arrumo uma maneira de levá-los ao forno ao invés de levá-los à gordura quente.
Se me chama para almoçar, não me venha com "fast foods".Estes sanduíches industrializados são péssimos. Sou bem mais um pãozinho integral recheado com cenourinha e ricota.
Doces? É. De doces eu sempre gostei muito. Principalmente em dias de "tpm". Só o chocolate para me salvar de tanta angústia.
Adoro dançar. Em qualquer festa sou sempre a última a parar,levando em consideração o detalhe de que não paro nem um minuto. Muito menos para comer! Quero é a pista de dança. E dependendo do evento, cerveja, pró seco ou caipirinha, que é ainda melhor.
Joguei vôlei durante um bom tempo da minha vida. Já tive época de ir pedalando na cidade ao lado só para tomar um sorvete. Isso mesmo! 15 km para ir, tomar o sorvete no banquinho da praça e mais 15 km para voltar.
Dificilmente o sorriso me abandona. Bem parecida com as anoréxicas, tenho desvio de visão quando me olho no espelho. Mas o engraçado é que quase nunca me vejo gorda. Me acho bonita!
Uso vestidos, saias, mini saias, bermudas, shorts, mini shorts, regatas, roupas coloridas!! Mostro os braços, mostro as canelas, a panturrilha, as coxas.
Adoro juntar todas as gordurinhas dentro do sutien para exibir o decote de um "pseudo" peito.
Adoro rímel, sombras, blush e gloss. E faço questão das minhas mexas loiras, sem falar que tenho carinho pela minha tatuagem e meu piercing no nariz.
Dificilmente vai me ver sem cordão, brincos ou salto. Nem depois de 30 sambas. Mantenho a linha fina.
Quando vou à praia, piscina, cachoeira ou rio, não me intimido. Que "mané" maiô! É biquini, mesmo.
Nunca fui uma menina, mocinha, e hoje, mulher magrinha. Certamente, não serei uma senhora magra. Mas isto nunca foi um problema para mim. Talvez por dar maior valor à outras coisas. Exemplo bom disso são o namorados. Desculpem meus ex's namorados e casos, mas, eles sempre foram muito mais interessantes do que bonitos! Ao lembrar de cada um, lembro de ações, da personalidade, do olhar, até do cheiro e da temperatura da pele. Raramente lembro com prioridade da imagem. Imagem se desfigura com o tempo.

O porquê desta crônica de hoje? De repente porque eu não gosto, não quero e não me importa nada lembrar que sou gorda.
Talvez para me forçar aceitar esta realidade, que só é cruel quando tratada como "anormal".
Na verdade, acho que é mesmo para dizer à alguns: - Obrigada, mas... Não precisa me lembrar. Minha saúde vai muito bem, obrigada. Não me venha com "é para seu bem". Me faz bem é um abraço apertado como declaração de amor e amizade.
Me faz bem saber que notam no meu sorriso a minha alegria que não vem das taxas de gordura. Mas da alma gorda de amor, de carinho, de calor.

E por último? - Ah!! Por último... E para saberem que não sigo tendências. E se você segue... Prefiro que não me siga.

Não tenho peso que impeça meus vôos. Minhas asas levam minhas penas bem leves a ponto de realizar manobras no céu.

Em algum texto eu digo: "Eu gosto de doces. Mas eu gosto mesmo é de gente doce!"

Deve ser por isso que sempre fui gorda.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Repete-se

Começou quando viu meu resplendor,
Quando não saiu de perto,
Quando me viu como sou,
Com um sorriso aberto.
Quando me acordou no domingo,
Com uma flor.

Você viu meu resplendor!
Um espelho de seu brilho.
Essa é a maravilha em você!
Você viu meu resplendor!

Apeguei-me,
Quando segurou minha mão,
Viu meu coração,
E encontrou conforto
Neste abrigo abandonado,
Em bocados dilacerado,
Por vezes maltratado,
De uma vida de amor absorto.

Talvez o seu seja concreto.
Pois você viu meu resplendor!
Essa é a maravilha,
A maravilha em você!

Mas tu tens mãos ciganas
Sabes das dores e das curas
Deu-me carinho e esperança
Restaurou-me com sua doçura
E seu sonhar comigo,
Nas águas e flores.
Quem sabe um sinal
De um caminho de amores?

No correr das águas,
Você viu meu resplendor!
Essa é a maravilha em você.
Você sempre está em meu pensamento.

Essa magia que tu tens,
Não encontrei em mais ninguém!
És um grande diamante,
Especial, único e cintilante!
Repete-se a tua bondade em minh’alma,
Cada dia, hora ou segundo,
Cada fala, som ou pensamento,
Cada sóbria memória ou sonho profundo.


[texto e sentimentos por Paulo Roberto Alonso]

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Onde tudo é branco

Meu cotidiano não cicatriza. É corte contínuo que sangra até a morte que vem ao anoitecer. E morre. Morre fácil ao rever o ciclo se repetir a cada maldito nascer do Sol.

Espero as noites em meu ombro, para que as manhãs talvez nunca cheguem. Mas é ato contínuo, cíclico e irritante. É uma bússola maluca que aponta sempre na mesma direção. É agulha de palha que fura o pensamento tão volátil. Inflama, perfura, inunda...

Meu cotidiano não vale o pão do café da manhã, nem o garfo torto do restaurante de quinta. Na quinta, na sexta... É de segunda a segunda que os alfinetes penetram sob as unhas e mancham o tapete da sala com meu sangue suado de sal e cafeína.

Um maldito relógio de pulso, esperando a chuva embaçar o visor.

E as paredes brancas ao meu redor, me lembrando do ciclo claro de minha loucura amarrada nas costas.

Um dia... O Sol podia morrer.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Ordinária batalha

Abro meus olhos e me levanto. Apóio as mãos sobre meu joelho e clamo por forças. O sol nem mesmo despontou no horizonte e me preparo para enfrentar aquilo que está por vir. Na tigela ao lado da minha cama, banho-me com um pouco de água e como uma fruta qualquer.
Calmamente eu visto a velha manta de algodão. Sobre ela, coloco a cota de malha que tilinta ao deslizar pelo meu corpo. Visto as proteções para cada antebraço e, em seguida, visto os protetores de canela. Confirmo que todas as fivelas estão devidamente ajustadas para permanecerem firme e não se tornarem incomodas. Observo no lado oposto do aposento o suporte que sustenta minha armadura. Seu brilho é ofuscante e sinto orgulho de ter uma armadura tão resistente. Visto-a como se estivesse possuindo a minha falecida esposa: devagar e com firmeza. Pego as facas que sempre carrego em minhas batalhas, uma fica na perna direita e a outra na cintura, do lado esquerdo, presa no meu cinto. Por fim, apanho a espada que, assim como a armadura, reluz de forma esplendorosa. Prendo-a em minhas costas e, mais uma vez, admiro-me no espelho. Durante esse processo penso nos inúmero feitos que preciso conquistar no dia de hoje. O elmo é a última peça para completar minhas vestes de batalha. Coloco-o na cabeça, alinhando para que o mesmo não interfira em meu campo de visão. Não há chance para falhas, tudo precisa estar perfeitamente em seu lugar.
Apanho minha montaria, que descansa durante a noite. Poderosa, veloz e faminta. Não há distância a qual ela não fique ansiosa a percorrer. Cavalgamos para longe. As léguas ficam para trás enquanto o sol, timidamente, dá o ar de sua graça. Percorro meu trajeto sozinho, alheio aquilo que me cerca.
Encaro a batalha ainda cedo. Uso de todos os recursos que disponho. Espada, facas, punhos, pés. Luto, bato, mato, mordo, cuspo... morro. O sol percorre o campo de batalha, recolhe-se e dá espaço para a mãe lua. Permaneço na batalha por mais tempo do que realmente gostaria. Saio dela quando estou derrotado pelo cansaço.
Com minha montaria, faço o percurso de volta com o sentimento de ter lutado por três ou mais guerreiros. Mas mesmo assim, com a sensação de não ter feito o bastante. Com a sensação de ter perdido a batalha... Sensação de derrota.
Meus punhos sangram, meus olhos ardem. Não sei dizer se é o cansaço ou se são as lágrimas. Minhas pernas fraquejam. Deixo minha montaria para descansar o pouco de noite que ainda resta, percorro o vilarejo sem dar atenção aos que estão em minha volta. Algumas vezes até os trato mal. Sei que estou errado, mas... estou tão cansado.
Enfim, chego a minha tenda, banho-me com a água recém trocada. Mastigo outra fruta antes de recolher-me e entregar meus pensamentos ao senhor dos sonhos. Encosto minha cabeça na cama e, antes de adormecer, faço alguns questionamentos a mim mesmo, aos deuses, aos antepassados falecidos.
Estou fazendo a coisa certa?
Até quando serei capaz de suportar?
Realmente sou competente para ser o líder que sou?
...
Estou perdendo essa guerra!

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Cotidiano de um ex-motinado

Creio que já sabes tu destes mares
Tão azuis, em que ando cá caminhando pra mim.
Minha proa brilha, tanta é a limpeza,
Tanta é a ausência destes revoltados marinheiros teus
Que alvoroçam e embrulham tua carcaça;
Mas, Ah, à falta da cachaça, tu, corsário, bucaneiro
De mares que não adentro há tempos,
Tempos tantos que a limpeza me amordaça a boca
E minhas súplicas por vida – ventos, tempestades! -
Morre sufocada pela calmaria – à falta da cachaça
Minha proa e prancha flutuam desertas
E ando feito fantasma
Numa nau de papel
Na cabeça de uma criança gorda
Que à cama foi mandada
Quando ainda longe a madrugada.
E tu, temeroso por uma revolta
Ou precavido pelas tais
Parece esquecer que, ao casco, quando quebrado,
Só restam lágrimas e chuvas acima,
E o abismo abaixo
(espero que saibas da inutilidade de chuvas e lágrimas à deriva num oceano)
Pois veja: depois de tanto reclamar,
contra a vontade, a vida me tomou de assalto!
E que surpresa!
Encontrar vida não no sangue de inimigos
Nem no calor do rum,
Mas no idílio do sutil caminho
Que faz o fresco fluxo da brisa
No respirar tranquilo do corsário
Que enfim senta para descansar.

domingo, dezembro 06, 2009

Dias maquinais

Bom dia saudade!
Saudade d'ocê...
Acompanha-me nos seus desenganos
que eu te danço nos meus desencontros.

Venha-me!
Faça-me feliz com sua presença
sobretudo das ausências que vos carrega
ao meu lado.

Seja minha dama
nessa valsa solidão
não faça dela um drama
atenda minha oração.

Cai a noite na minha vida
a tarde se encolheu
e ela me deixou só novamente
nesse tango solo.

sábado, dezembro 05, 2009

A Marginal

“A teus pés”, marginais correndo por dentro de nossos conflitos...
“Inéditos e dispersos” descobrindo o nome que tem

A teu Rio que espeta liberdade e inventa a referencia das provas
Das tuas “Luvas de pelica” que tão bem marcam o inferno de tua passagem

Da cara fria que brota larva poesia
E assume plumas duma geração “mimeografo”

Da puta que sangra com versos nos dentes
E “pousa” nua sob qualquer lente gratuita

Poeta que ninava e dormia com marginais
Bagunçava cabelos, seios, coxas e sexos
Trepava com as ruas e praças públicas
Gozava na ereção da arte barata
E excitava o órgão poético de todos sedentos

Marginal integrante da quadrilha de Leminski, Cascaso e Torquato
Sob o chão do povo, abrindo antigas prisões
Com pés, punhos e versos revoltados
Jogando fora a sobra da roupa domesticada

Cortando e travando a doença
Recuperando o nojo que desbota a elitização
Abolindo a poesia
Jogando na rua, pro povo, pra todos!
Unificando arte e revoluções
Queimando o censor anestesiado dos que vendem sua arte

Eu-poeta
Versos-para túmulo incerto
Ingênua-desavergonhada
Morrendo além de escamas nas palavras que há
Ânus melado e promiscuidade verbal
Transgressora sem teto
Vestida de militante para pisar em nova arte

Cuspida na cara dos amantes lucrativos
Gozo compartilhado por poetas, atores, miseráveis e irmãos...
Vida longa a marginalidade dos poetas!

{Ana Cristina César foi uma das pioneiras do movimento de literatura marginal, participando da "geração mimeografo" contra a elitização literária e ao lado de outros grandes artistas marginais da década de 70. Nasceu e morreu para poesia do povo, cometendo suicídio em 1983.}

sexta-feira, dezembro 04, 2009

INVENTO

De posse das minhas fantasias, retomo. Vou escrever sobre o que não existe. Afagar esta dor de ser só e inventar meu amor.
Por hoje me permito ser amada como sempre quis ser.
Por hoje me reservo e me dou o direito de me inventar, de te inventar e de viver nas minhas linhas as minhas invenções.
Os pensamentos me tomam na cama. Minha mente nunca faz silêncio. É difícil o sono chegar. De imedato, me pega o sonho e me coloco a rabiscar meus versos. Construo nesta folha branca meu encanto sem dor.
Ah! Por hoje e por ora me permito ser tua. Tua como eu sempre quis ser de alguém. Completa e completamente...
Na pretensão de construir obra literária, me vem à possibilidade de inventar e então, traço nossos destinos. Ouso construir algo meu. Penso construir algo teu. Escrevo construindo algo nosso. É mesmo tudo invenção!
Por hoje eu quero o céu. Eu sempre quis o céu. Estrelado ou não, com Lua imponente ou tímida. Sempre quis os mistérios deste azul misturados aos meus. Sempre quis dançar sobre nuvens sem formas, acompanhada de quem me abraçasse doce e me fizesse esquecer que o chão é meu ninho. Sempre quis tocar a Lua com uma mão para manter a outra presa àquele que me fizesse dividir ternos olhares entre o que há nos limites do Céu e da Terra.
Por hoje eu me permito ser tua, completamente.
Aproxime-se e traga até meus ouvidos tuas palavras que me aquecem e molha a minha boca que, sedenta pela tua, procura do teu gosto em cada centímetro de pele nua.
Depois, encosta teu ouvido no meu sorriso e me tome todo o festejar e fogos que brilham meus olhos para o que te é eterno. Morro só de pensar que posso ser breve.
Arranca de mim, suave, toda expressão que tenho e não tive. E alimenta ainda mais este inquieto desejo de te ter sempre e muito.
Finca no meu peito o teu nome e escreva no meu corpo a tua história com tinta que não se apaga. Porque não sou folha em branco, mas há em mim um espaço reservado para tuas letras. E no mais, a única folha que se rasga é esta que escrevo. E por hoje... Por hoje basta de inventar.






Obs.: Aviso aos navegantes!! Gente!! Final de ano para mim é mais do que corrido!! Não consegui fazer nada! Vou postar um texto antigo! Espero que gostem! Beijos

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Minha Glória

Não sei se há homenagem
Grande o suficiente
Ou digna
Para tal personagem:
Um paradigma.

Quero transpô-la em versos,
Mas o máximo que consigo são suas lembranças,
Do que vi, ouvi e vivi.

Quero dar-lhe a vocês essa poetisa,
Esse herói e guerreiro criado em mulher,
Que há muito fez e faz sua poesia.
Obra que me inspira.
Autora que reverencio.

Seus cabelos e pele tornam velhas as crianças,
Sua mão trêmula põe medo nos mais corajosos.
Sua visão frágil não prejudica sua compreensão.
Mulher de coração enorme,
Braços que sozinhos ergueram o mundo e os quatro filhos,
E pernas que andaram sem fraquejar.

Escreveu versos duros e doloridos
Escreveu estrofes que deram frutos
Escreveu frutos que deram estrofes
Sua poesia ainda vive
E viverá para sempre em mim
Poetisa da vida poética

Retratou a dor e a alegria,
A morte e a vida,
O amor e a falta dele.
Hoje aguarda a estrofe final.
Sempre escrevendo.
Sua vida.

E a de seu neto.
À Glória, com todo amor.
Minha Glória, minha poesia, minha inspiração.
Te consagro.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

De que anjo veio Augusto?

Que serão dos seus anjos, Augusto?
Que outros poetas eles inspiram... Retiram...
Que veias ardentes de versos crus eles pulsam?

Quem foram teus anjos, Augusto?
Que descuidaram de tua saúde ao ficarem pasmos com tuas escritas...
Que morderam os lábios a cada estrofe que torcia as vísceras...

Onde foram os teus... Os nossos anjos, de Augusto e vários Eus?
Em que papéis escreveram tuas loucuras belas e atrevidas?
Em que portas foram bater para soprar tolices poéticas?

Tragam-me os anjos de Augusto...
Inspirem-me... Expirem-me... Augustem-me...

Que vermes e bactérias sejam sempre exaltados
Que a terra coma todos versos podres
Remetam sempre a imundície de tuas rudes palavras

Que Augusto caia dos anjos e mantenha-se em nossos pecados
Que Augusto cuspa teus escarros e catarros literários
E que eu esteja de boca aberta, esperando por tuas migalhas

E que Augusto durma com os Anjos!

terça-feira, dezembro 01, 2009

Gritos na ceia!

Acordos, contratos, negócios! A cada assinatura, vejo as cifras correndo para minhas mãos. Essa vida me agrada demais e só existe um prazer maior do que o dinheiro, o prazer de comer. Seja na primeira refeição do dia ou no almoço. Seja no chá da tarde ou na ceia antes de dormir. Mas confesso que sinto medo da ceia. É a única refeição do dia em que me sinto desconfortável.
Alguns anos atrás, tudo começou e parece que, até hoje, não teve fim. O horário nem sempre é o mesmo. Mas não importa, sempre acontece quando estou desfrutando a ceia. Não basta trazer as melhores iguarias, nem mesmo estar ao lado das melhores companhias; já fiz de tudo, até mesmo, deixar de comer. O horário é o mesmo.
No começo, o som que ouço é de algo sendo arranhado, como se um cachorro estivesse do lado de fora e tentasse entrar. Pensei que fossem ratos ou qualquer outra coisa do tipo. Mas após isso, começam as pancadas. São altas, perturbadoras. Não compreendo como as outras pessoas não se sentem incomodadas – confesso que nunca falei sobre isso com nenhuma delas.
O pior vem em seguida. Após as pancadas, eu ouço a voz, os gritos. Deus, os gritos! Nesse momento é quando eu interrompo a minha refeição e tento me recolher. Mas não adianta, os gritos me perseguem. Somente após uma ou duas horas que eles se calam, adormecem. E é nesse momento que eu adormeço.
Não tenho como afirmar, mas estou quase certo de que isso começou dias depois do falecimento da minha esposa. Os gritos lembram sua voz. São como se pedissem ajuda, como se pedisse para que a tirassem de lá. Ela estava morta quando a enterramos, o médico confirmou. Poderia ele estar enganado? Poderia ela estar viva? Venho pensando nisso há dias. Lembro-me que ela faleceu no começo da tarde. Mas... e se ela ainda estivesse viva? E se ela tivesse apenas adormecido? Se isso for verdade, ela acordaria algumas horas depois... Acordaria na hora... da ceia!!!

:::: Edgard Allan Poe retratou em diversos contos que escreveu, sua aversão e o terror que sentia de ser enterrado vivo. Seu maior medo era de sofrer de catalepsia, doença que foi retratada na sua personagem Lady Madeline Usher, em um dos seus contos mais famosos no tema: A queda da casa Usher::::

Monumento à Goethe

Sim, sou apenas um viandante, um peregrino sobre a terra! E vocês são algo mais do que isso?

Werther,
Sou levado a crer, após vivenciar tão intesamente teu sofrimento, de sorver do mesmo cálice que sorveste até a última gota desse amargo vinho, de ter sentido na têmpora direita o derradeiro som de pólvora que foi a despedida do mundo pra ti, e – Deus sabe!, tanto quanto ti!

Trocaste palavras íntimas com teu amigo, e no entanto, à despeito de sua inocência no tocante ao fato de não florear seus relatos com artifícios poéticos, o resultados dessas coisas raramente faz juz a intenção de quem se arrisca a exprimir seus sofrimentos em palavras.

Que dirias tu, companheiro de angústias, se visses no que que se tornou o teu desespero, a tua jornada, a tua paixão, tuas lágrimas, tua morte? Ficarias feliz? Indiferente? No entanto, sobre tais conjecturas, abstenho-me de comentar. Tu já deixaste bem claro teus pensamentos e opiniões à respeito do sofrimento dos homens e como eles se relacionam com a poética.

E… também à despeito da grande distância de épocas, costumes, morais e hábitos que nos separam, o cerne dos sentimentos nunca mudou! Na onda de tuas palavras minha mente agora contempla pensamentos sinistros, como tantos outros já o fizeram.

Sim, pois também possuo uma Carlota, como esses tantos outros. E para resguardar-me e me manter distante de tais considerações sobre a minha vida e morte, deparo-me com tuas palavras. Quem sabe se tu tivesses tomado contato com palavras semelhantes em outra época… quem sabe…

Mas que são estas palavras contra o fato em si? Como disseste, se pudesse eu comprimir esse vazio contra meu coração, haveria algo com o quê preenchê-lo. No entanto não há. E nada posso fazer.

Hoje, catedrais e templos de conhecimento estão erguidos em teu nome. Tornastes símbolo e precursor do romantismo – estrada literária esta que tantos outros, até hoje, após tantos séculos, trilham em suas jornadas. Acusam-te de ter desencadeado uma horrenda onda de suicídios, todos inspirados pelo teu grand finalle, mas vê: creio que tenhas salvado mais vidas do que arrancado. A minha, por exemplo. E esta carta nada mais é do que um agradecimento e um monumento, que levanto agora imponente, mesmo que para ser contemplado somente pelas paredes de meu quarto. Todo monumento, é, no fundo, solitário, assim como a quem ele presta homenagem.



[ Perdoem novamente o atraso e por atropelar um de vocês. Podem postar e deixar o meu pra outra página, eu só não queria passar incólume, mesmo no dia errado, pois o tema muito me agradou ]

domingo, novembro 29, 2009

Versos de Barros

Poeta, s.m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de vazadouro para contradições
Sabiá com trevas
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como
um rosto. (Arranjos para Assobio, 1982. Manoel de Barros)

Em versos transnominados escritos em rastos de lesmas
fico em estado de árvore quando vos leio
Apalpo as intimidades do mundo como o sapo (de barriga pro chão)
lambe a mosca no rasgo do dia

Agora em estado de pedra vejo o canto amarelo
e verde do passarinho vestido de luz
E o silêncio líquido que corre entre
dois jacintos escurece-me de poesia

A poesia? Não serve de nada
se não for para ser incorporada
Tenho profundidades em não saber quase tudo
sem saber que não sei nada

A água que corre nesse riacho
passou em forma de pássaro
no céu rubro da noite anunciada

E o cu da formiga virou-se para o mundo
e mostrou que as borboletas de tarjas vermelhas
quando em túmulos são mais bonitas

Nesse inutensílio que é a poesia
sou professor de agramática
e fazedor de significados que não existem

Melhor: dou ressignificações a palavras
que têm suas bundas viradas para o chão

Coloco cheiro e cor
onde só existia palavra

E como o esplendor da manhã
meus versos também não se abrem com faca

sábado, novembro 28, 2009

Variações de uma mesma inveja

A Louca

Passa, rasteira, corrompida
Diante de toda felicidade, o corpo quer sair de uma oração doentia
Nas sextas, sai a louca do espelho
Transborda para o bando seguir livre
Hoje, ninguém nos tira
Os símbolos das praças que nunca fomos
Edifique a festa em um maldito sonho inacabado
Cada pé descalço, capricha em sua fantasia
Invejo o suor de todo o conflito.

A Dama

Quando a dama se esquece do luto,
Faz morada em antigos conventos
Recalques precedidos de glória
Evoca sentidos desejando a morte do outro lado da rua
Óbitos em sono e prece
A dama permanece nas tintas
Pousa em tecido da carne que se ergue
Forma calor moribundo impregnado em ebulições
O feto mexe morto em seu ventre
Em seus olhos cansados ela esquece de abençoar a língua
Prova-se. Está viva. Constata por baixo de cada cratera uma ferida
A intensidade da dama é também a sua morte
Invejo o sulco retirado das tragédias.

A Santa

Só tenho um grão que me esmaga
Espero quieta, nada que eu diga findará esta falta de calor e abrigo
Meu leite empedra e ainda nem sou mãe
Do outro lado, aceno ao ventre seco
A morada do corpo ainda é a placenta doente
Sou fraca,e minha nobreza não sabe sorrir
Invejo os óvulos gigantes que enrolam-se entre si.

A Dissimulada

A cama acalenta insones e insanos
No barro inútil é estreita e passa
Não respeita o corpo
Arromba o que arrancam dela todos os dias
Este sexo confessa todos os crimes
Carrega no colo toda marginalidade
Dissimulada, saboreia os conflitos de outras páginas
Deita-se com seus próprios personagens
Sua fome é sua platéia
Invejo os orgasmos naturais.


A Humana

Identidade. Tudo ali, na prosa infértil
Percorre em segredos engolidos toda a frustração
Sua embriaguez é proposital
É de Deus e do mundo
Foi jogada a loucura de uma poesia estagnada
Enquanto indivíduo, é pura oscilação
Seguimento inteiro e disperso
Dentro de toda inveja não há espaço pra cura.

sexta-feira, novembro 27, 2009

Valores

Jorge nunca sonhou em realizar. Seus sonhos sempre foram guardados. Trancafiados em cofres particulares, acumulando poeira em histórias de glórias.
Dormia sobre colchões recheados de cédulas, porém, não fechava os olhos e nem se entregava ao prazer do sono. Era cercado de medo e insegurança. Não permitia aproximação com o mundo. Só sabia guardar. Não aprendeu muita coisa. Não sabia dividir, não sabia assoviar e nem cantarolar.
Penso sempre que Jorge não conseguiu tempo para viver algum prazer diferente. Contava tudo, mas não contava as horas que lhe restavam, pois a vida Jorge não poderia nunca guardar.
Noite de verão e muitas estrelas no céu. Augusto, primo de Jorge, passeava pela orla a admirar as belezas da natureza e parou para tomar um suco com o dinheiro que restou do seu salário mínimo. Augusto vivia bem, mas não sabia guardar nada. Só colecionava valores sentimentais. Se sentia feliz, mesmo desejando mais.
Na mesma noite lhe bate um desejo de rever o primo. Cultivava a família e o amor por ela. Ligou e ninguém atendeu. Foi direto à casa do primo que era ali mesmo, perto de orla.
O portão estava aberto. Augusto estranhou e seguiu. Na porta da sala, rastros de sangue e notas de cem. Augusto se desesperou!! Correu até o quarto.
Jorge estava morto, abraçado ao colchão encharcado de sangue, e notas enfeitando o seu sono eterno. Conseguiu fechar os olhos, depois de muito tempo. Conseguiu se entregar ao sono depois de tanto tempo.
Jorge não soube contar sua história, não soube contabilizar seu tempo.
Augusto entendeu o valor da nota de cem. E Jorge, certamente, foi embora sem saber o valor de um suco na orla.

quinta-feira, novembro 26, 2009

O Sol e a Soberba

Quando o Sol se levantou naquela manhã,
A Soberba já estava em pé o aguardando.

— O que faz à minha espera?
Perguntou o Sol em seu fulgor de beleza.
Soberba, que vivia de eras e eras, respondeu:
— Vim cumprimentar-te realeza!

— Tu!? Que vive de ti mesmo e nada mais?
Confessa então submissão a quem te ilumina?
— De modo algum! — Soberba respondeu.
Eu te dou a luz, Estrela, esta é tua sina!

Enfurecido, o Sol sobe ao alto do céu:
— Tu!? Um ínfimo orvalho que se desfaz sob meu calor?
Tu!? Que não passa de um túmulo dourado dos homens!
Que se alimenta de esterco e de corpos a se decompor!

Soberba, em sua ignorância, sorriu em seu brilho:
— Mas a quem preferem os homens? Responda-me essa!
Senão a quem os glorifica e os elevam no pedestal!
E não a ti, que és sempre o mesmo, todos os dias, ora essa!

Ardendo em raiva, gritou o Sol:
— Sem mim, nem a ti existiria! Quanta ingratidão!
Insulta-me teu pedestal invisível e tua artificialidade!
Destruo a ti com apenas um dedo de minha mão!

— Não sejas tolo, grande rei!
Existo até mesmo em tuas palavras!
Meu fim é impossível! Os homens oram em meu dourado túmulo!
E neles para sempre viverão minhas larvas!

Vencido, o Sol se pôs aquele dia.
Soberba manteve sua pose e seu sorriso.
Naquela noite os dois iriam dormir em seus túmulos.
Enquanto os homens se afastam do paraíso.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Julgado pela Ira

Carregava consigo uma faca ensanguentada. Na outra mão um olho humano.

O ódio ainda pintava seu olhar com um vermelho intenso e suas sobrancelhas cerradas ajudavam a compor o semblante endemoniado. Bufava de tal modo que pelo canto da boca escapavam gotas de saliva. Atravessou o hall de entrada empunhando a arma branca de forma ameaçadora. Seguido por seguranças armados, levou dois tiros nas pernas por desobedecer a ordem de parada.

A ira era tamanha, que seu corpo teimou em continuar. Outro tiro, dessa vez no braço. Enfiou a faca no pescoço do homem que guardava a porta da sala de julgamentos e o esguicho de sangue foi direto em seu rosto, dando-lhe uma aparência ainda mais cinematográfica. Ignorando o horror causado a todos os presentes, por sua chegada, ele atravessou o corredor e parou em frente ao juiz. “Aqui está sua testemunha ocular”.

E tombou diante de todos, depois de levar um tiro na nuca.

terça-feira, novembro 24, 2009

Minha gula!

Sinto falta de alguma coisa. Quando aquela faca perfurou sua delicada pele, pude sentir a incrível sensação da carne macia sendo vencida pela ponta aguda. O prazer é imenso e indescritível. O sangue logo tingiu de rubro o carpete, mas logo tudo acabou. Senti falta de algo.
Quando eu era pequeno, minha mãe nunca contou uma história de ninar. Nunca me deu um beijo de boa noite e talvez seja o principal motivo de eu não conseguir ser fiel à minha esposa. Eu preciso beijar, preciso abraçar, preciso sentir o amor... Mesmo depois de virarmos a noite fazendo sexo, mesmo quando sinto seu corpo apoiado em mim, fazendo carinho em meu peito, eu sinto falta de alguma coisa. Não dá pra explicar.
Meu pai saiu de casa quando eu era pequeno. Eu o vi bater na minha mãe por diversas noites. Não precisei ser muito esperto para descobrir o significado da palavra: bêbado. Essa é a fonte da minha cega ânsia por algo alcoólico correndo em minhas veias. Deve ser por isso que eu só paro de beber quando perco a consciência ou quando sou arrastado para longe de um bar. E mesmo quando a ressaca chega, com aquela dilatação na cabeça e o gosto amargo na boca, eu me sinto satisfeito. Ainda sinto vontade de continuar bebendo.
Nos domingos a tarde, não tem nada melhor nessa vida que sentar no sofá, tomar uma gelada, assistir um jogo de bola e injetar um ácido na veia. Puta que pariu, que tesão! Não há coisa mais prazerosa de se fazer.
Mas o domingo acaba, assim como a cerveja, o futebol e o meu estoque de ácido. É nessas horas que eu fico puto da vida. Sinto um comichão percorrendo minha coluna, dizendo baixo no meu ouvido que algo está faltando. Foi por isso que tomei a decisão de pegar a faca e esfaquear a minha esposa. Ela não era o bastante para me dar amor, bebida, futebol e ácido. Durante alguns momentos toda aquela falta havia desaparecido, eu estava completo. Mas essa sensação não durou muito. Em instantes eu continuei sentindo falta. Falta de alguma coisa...

segunda-feira, novembro 23, 2009

Preguiça revisitada às avessas

Já acordo com meu rosto queimando.
É o sol que, grosseiro, nos acorda, querida.
Ai de nós, que trabalhamos a noite toda,
No chão desenhamos constelações de suor
E edificamos nosso reino sob a égide de uma Lua
Que, sendo senhora tua, a mim transformou em rei
Mas nós, querida, ai de nós, quantos castelos erguemos à noite?
De quantas amarras e lacres nos livramos em seus calabouços
E usando tão- somente o calor do corpo?
Não entendem o barulho dos carros, as pessoas, a gritaria,
O relógio, os sinos da igreja, o repórter da TV, o locutor do rádio velho,
Não entendem, berrando às seis da manhã, o nosso espreguiçar.
Tentam nos impor o trabalho, tão cedo;
Tentam nos colocar de pé, sem medo de tombarmos exaustos;
E pela janela grita em uníssono o coro da sociedade
À cruz e fogo, a pregar contra a modorra dos vadios.
É isto que somos agora, querida. Dois vadios,
Dois vagabundos deitados o dia todo.
Dois náufragos nos pântanos da morosidade,
Agarrados desesperados às tábuas do entorno
Do navio em que singramos, à cada noite,
A longa tormenta do nascer do dia-a-dia.

domingo, novembro 22, 2009

Entre a língua e o gozo

Sua língua agridoce que percorre
o meu corpo
caminha sobre as curvas da luxúria

derrama o veneno sabor
do tesão
sob a forma do pecado

inconformado e atento
sedento pelo encontro
fica minha língua sobre o seu tormento

em noites eternas e quentes
chamas se acendem
invocando o ritual

a fusão dos dois corpos
numa só carne nua
exala o perfume

que por ora
me consome
e me confunde

no delírio do teu gozo.

sábado, novembro 21, 2009

Humificação

Entubo minhas indagações
Domesticado-leva a boca
Pago minhas doenças
Célula por célula
O corpo faz das veias proles impacientes
No leito húmus há todo espaço para boca
E a boca sorri
Oscilação do batom e precipício.

sexta-feira, novembro 20, 2009

CORES

As cores...

As cores são percepções...
Feixes de fótons sobre células da retina.
São impressões para o sistema nervoso.
Cores... primárias, secundárias e complementares.

As pessoas...

As pessoas são percepções.
Feixes de fótons sobre o pulsar do alma.
São impressões para o sistema nervoso.
Pessoas... primárias, secundárias e complementares.

Posso perceber amarelo no teu dia.
E tem horas que percebo vermelho na tua tarde.
E se me esforço, consigo pressentir ou criar o azul da tua noite.

Amarelo, Vermelho e Azul...
Cores primárias...não se decompõem de outras.
São absolutas.

Nós, humanos, já um tanto pálidos...
Somos uma mistura de tudo...
Não somos absolutos em nada.
Nem primários, nem secundários...
Complementares, talvez...

Habitat natural de um arco-íris sem antecedentes de tempestades...
Mas sempre no aguardo pelo Sol...
Sempre nos despedindo da chuva, apreciada em dias de preguiça.

Percebemos as cores...
Nos percebemos...

Ocre e Carmim são absurdos...
Mas são complementares...

As cores...

quinta-feira, novembro 19, 2009

Tema Livre Tem Ar Livre de Liberdade

Quando eu nasci,
Deram-me o direito de liberdade.
Então vesti minhas asas e voei.
Tem ar livre lá no alto
Vento sul que carrega a solidão
Porque liberdade é responsabilidade de ser sozinho.
A vida toda.

A vida toda,
Me puseram amarras,
E meus pés foram forçados a ficarem no chão.
Mas minhas asas, com mais força e vida que a mim,
Insistiam sempre ao alto.

E avante:
Todas as noites,
Eu almejava a lua e as estrelas,
Chegar tão próximo que pudesse tocar,
Mas não havia tato nos sonhos.
Todos os dias,
Eu quis mais do que ser um escravo da terra,
Queria voar além do horizonte,
Além de onde
Meus sonhos podiam alcançar.
Todas as manhãs,
Vi o sol nascente,
E desejei mergulhar nas tintas daquele céu.

Tenho pena
De quem não tem penas,
De quem tem asas tão pequenas
E será sempre uma pedra imóvel.
Apenas.
Tenho as armas de Ícaro,
E são tão amenas
Que não desejam voltar ao pó
Querem mesmo, apesar de terrenas
Tornar-se vapor nas alturas serenas.
Só.

quarta-feira, novembro 18, 2009

O Diabo Ouve Blues

"Trouble in mind, I'm blue
But I won't be blue always,
'Cause that sun is gonna shine in my back door someday."


Passeio entre os corpos pútridos na fileira de baixo
Ergo com apenas um dedo, os corpos de cima
Ainda queimam por dentro,
enquanto por fora sorriem as gotas de chuva

Meu andar é quase uma dança
A voz rouca invade meus tímpanos, acariciam
Rasgo as costas de alguns e deixo escorrer o que resta
Água negra, resquício de uma vida terrena

Assobio e estalo os dedos, danço ao redor de um cadáver
Lentos acordes que me encantam enquanto eu canto
O som do baixo dá o ritmo de minhas maldades sacanas
O choro alongado da guitarra... hummm... vício de fechar os olhos
Dedilho sobre uma nádega ainda inteira
Toco bateria no crânio de alguém que talvez nunca tenha ouvido blues

Chuto uma pedrinha no caminho, levanto poeira e sorrio
Sou menino e danço ao redor do escárnio
Sou o mal entranhado na terra e assobio a minha alegria

Sou o diabo e ouço Janis...

***

se quiser ouvir enquanto lê...

terça-feira, novembro 17, 2009

Visita

"Caminho pelos corredores,
estou repleto de calma e segurança.
Todos olham pra mim.
O que há de errado comigo?

Será que estão olhando para meus pés?
Parece que calço 56.
Ou será que estão olhando para o meu cabelo?
Ele só está um pouco despenteado.

Mas algumas pessoas olham para minhas roupas.
Sei que elas estão curtas e coloridas. Eu sei!
Desconfio que olham para o meu nariz.
Mas só porque ele está um pouco vermelho e redondo?

Não deve ser isso!
Nem mesmo seria o meu rosto branco!
O que seria então? O que há de errado?
Por que todos me olham?

Mais alguns passos e descubro.
Vejo nos olhos de uma enfermeira.
Todos olhavam o meu sorriso;
minha segurança!

Entro no grande quarto,
a festa vai começar.
Aquelas crianças pulam de suas camas.
Quantas crianças!!!

Recebo abraços e beijos de todos os lados!
Cada pedaço de mim é disputado.
Elas já me aguardavam!
Elas sempre me aguardam!

Distribuo presentes,
e juro não ser o papai-noel!
Ouço histórias, ouço meu nome,
elas querem a minha atenção!
Querem o meu sorriso!

Ah, mas o meu sorriso é de vocês!
Sinto-me cercado de anjinhos.
Todos vestem camisolas,
todos estão com a cabeça raspada.

Meninos e meninas!

Faço mágicas, malabarismo.
Piadas e histórias eu conto.
E nenhuma criança é vencida pelo sono.

É hora de partir!
Puxões de um lado,
suplicas de outro.
Lágrimas.

Mas elas sabem que eu voltarei para vê-las.
Mas as lágrimas, não são delas...
são minhas.
Pois sei que alguns rostos eu não mais verei.

Venço a tristeza,
só parto depois de abraçar cada uma.
Por fim eu saio da sala.
Atravesso aquele mesmo corredor.

Mantenho o sorriso.
Apenas tiro a roupa de palhaço.
Mas jamais tirarei o sorriso do meu rosto.
Isso, eu aprendi com elas.

Aquelas crianças me fizeram notar,
o quanto é importante amar!
E o sorriso, é a maior prova de amor,
que posso dar a elas.

Voltarei àquele hospital.
Mas preciso passar em muitos outros ainda.
Existe presentes a serem entregues.
Existe esperanças a serem cultivadas.

Eu tenho esperança!
Esperança de que quando eu voltar,
não sentirei falta de nenhum rostinho.
Não irá faltar ninguém.

Pois aquelas crianças me aguardam...
Elas sempre me aguardam!"

segunda-feira, novembro 16, 2009

O primeiro labirinto

Não posso mover meus passos por esse atroz labirinto. Nessas paredes ressoa um som que nem sei bem se é um som. O ar está dilatado e denso, seu peso me esmaga e comprime minha alma já escoriada. Socorro, socorro!, eu puxo o grito direto de minhas entranhas, mesmo já sabendo da inutilidade e do perigo de se provocar ainda mais o tenebroso silêncio que rege o ar daqui. Mas, se silêncio, que grito é esse que tão nitidamente ouço? Um berro pavoroso que sinto atingir-me por todos os lados, que me cerca e que não posso definir se vem de fora ou de dentro.

Dizem que no centro do labirinto há um minotauro. Será ele?
Tateando às cegas e surdas e com o ar pesando as têmporas, arrisco o primeiro passo, que pareço dar sobre areia movediça. Adiante, vejo uma esquina. Será a saída? Será a entrada? Num acesso extremo de medo e temor, evoco forças não sei de onde e decido por correr, correr como nunca e avanço as esquinas do labirinto uma após a outra, sem me preocupar com que paredes possa vir a encontrar. Ouço passos atrás de mim mas não posso arriscar um olhar, não sei se aguentaria fitar diretamente os olhos daquilo que me persegue, como se em minha posse houvesse algum segredo ou tesouro de tempos ancestrais.

(Cedo ou tarde me cansarei e serei devorada. Ele começará por minhas pernas e irá subindo, aos poucos, calmamente, saboreando entre seus dentes cada pequeníssima região, ao mesmo tempo em que descansa da perseguição. Continuará escalando o meu corpo, como se galgando as dificuldades e sorvendo cada segundo de expectativa que oferecem o longo tronco e os galhos de uma árvore, para enfim conquistar o fruto que na copa aguarda convidativo.)

E o pensamento me toma de assalto: que medo é esse? Se, ao olhar para trás, deparar-me com um minotauro, que poderia eu fazer? Portanto, tudo que ainda sustenta esse medo não é nada além do próprio medo. Pois que seja minotauro ou monstro qualquer que me persiga, eliminarei meu medo antes que você o faça! Não há nada atrás de mim que possa ser pior do que eu–-

Suada na cama. Levanto-me de supetão e olhando para cima percebo a menina me fitando do teto, ensopada, acabada, a boca em horroroso O, o peito arfando. Deitada entre lençóis sujos e roupas rasgadas, ao seu lado há um corpo horroroso, dormindo um sono recente, satisfeito, embriagado dum prazer rápido e egoísta; seu membro jaz feito haste de flor. Nem pôde finalizar o grito, essa pobre menina; sua fuga foi cortada ao meio e há sangue na cama, muito sangue. Com seu corpo exaurido e sua alma suspensa, ela torna a se deitar, retomar sua busca vã de um sono impossível, já temendo andentrar, sem nem se dar conta, em novos labirintos; no entanto, nada se pode fazer, pois o sono já envereda por caminhos ocultos da cama; e em meio a pétalas de rosas defloradas ela dorme como se cercada por estranhas paredes.

domingo, novembro 15, 2009

Colcha-de-retalhos

Minha poesia é feita de retalhos
gasto com o uso intenso do cotidiano.

A construção não segue métrica
e percorre um caminho espiral.

Traduzo em poesia
tudo aquilo que não existe em palavra.

Coloco a lente poética
e enxergo o mundo subjetivamente.

Seja em cores ou em preto-e-branco
revela os meus
e talvez os seus momentos íntimos.

E no final,
os retalhos que eram só pedaços
transformam-se nesta colcha.

sábado, novembro 14, 2009

Prosa e Poesia

A prosa

Um dia, ela nunca choveu tanto. Era como se de repente fosse amanhecer, e todas aquelas notas juntas sem som estivessem dentro de seus corpos, aonde houvesse infância e as línguas e mãos fossem criadoras inseparáveis de qualquer ilusão. Sete noites como fartos desalinhos nos mais profundos ciscos dessas carnes. Lá naquele lugar onde as pessoas engolem moedas abrindo um abismo embaixo do mundo.
Sabe-se lá se é pela esquerda que eles chegam a onde se é. E foi a partir do limbo secreto abrindo o tempo por dentro dos braços que os vitrais refletiram a palavra inaugural:

A poesia

Gavetas e escadas inundam-se do mesmo nada
Realmente acontecia... É possível transpor o minúsculo!
Como se da “Primeira ilusão” os ossos atingissem a potencia máxima
E desafiassem as origens de um ator que ascende de seu próprio palco
Confundindo a platéia com um ar que bate na cara e respira
E lá no final de nossos olhos chegava o “Teatro ilusionista”...

A ilusão sonâmbula desconhecendo suas próprias doenças
Desenvolta dos golpes de sua própria garganta...
Derretiam as intenções estrangeiras de outro país e de nosso tempo
Entramos no Deus esquecido da rua, exaustos como se dá a um “Merchan” limitado
Morre ao avesso de uma prole vulgar a poesia de coisa nenhuma
Desinibidos da realidade do “Futuro de um passado imperfeito”

Há de germinar poesias como se quer das plantas
E os verbos serão como placentas em brasa que nem a sede constrói
Tijolo por tijolo...Nos braços invisíveis “Da cartola do poeta”
E será então a poesia imortal, em fragmentos e incertezas por todos os lados
“Criadores, criações e criaturas” mergulhados no mistério de uma arte gratuita.

sexta-feira, novembro 13, 2009

Criadores, Criações, Criaturas

Criadores...
Correm rimas pelas veias.
As células do sangue formam palavras.
Os pensamentos são versos soltos sem pontuação.
Dos pés à cabeça, transpiram sonhos.
Possuem a fórmula mágica da emoção.
Criam dores...

Caem leves no papel.
Dançam com as mãos quando,
Levianos, entregam a alma à tinta,
Ao lápis...
Criações...

Artistas que desenham as nuvens do céu.
São os escultores das crateras da Lua.
Pintam as flores, o pôr do Sol e os rabiscos de relâmpagos no céu.
Tudo é ilusão.
Criam e aturam...

Criações...
São registros de um passado cru.
A invenção de um futuro morto.
Presente nascido a fórceps.
Criaturas...


E para os tempos: bola de cristal.
O agora é mais uma ilusão.
Criadores, criações e criaturas...

Criam Ação, reação, inquietação...
No segundo que antecede a vírgula não respiram.
Suspiram, transpiram, deliram...

Crituras que criam dores...
Os pratos estão fartos de pecado.
E para o amor, têm a cura.
Criam e aturam...

Deixa voar solto o verbo.
Ilusionistas não são heróis.
- Criam asas e aturam a dor de voar.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Da Cartola do Poeta

Da Cartola do Poeta
Olhe profundamente nos meus olhos.
Isso! Agora relaxe.
Sinta seu corpo adormecer, feche as pálpebras.
Você está cansado. Relaxe.
Esqueça o mundo e o passado.
Você é o Agora.
Agora, leia:

O que parece...
O que é...
Desvanece.
Cai o pano.
Revela-se:
        Palavra

Para lavrar o solo da mente,
Semente criativa semeia,
Em meio fértil cresce,
Floresce na primavera.
Efêmeras frutas da estação!
Um fragmento, uma ilusão.

Plantam-se as letras,
Cultivam-se palavras,
Colhem-se os versos,
Cozinham-se as estrofes.
E serve-se uma boa torta de poesia!
Mastigue essa fração de fantasia!

O que parecia...
O que era...
Revelou-se!
Da cartola do poeta,
Provou-se:
        Arte

por Paulo Alonso

quarta-feira, novembro 11, 2009

Futuro de um passado imperfeito

Era verde. Quase tudo verde e azul. O ar ainda era respirável e as pessoas sorriam em cada “bom dia”.


Meu trabalho é viajar pelo mundo e contar o que não foi dito a vocês. Mostrar a perfeita imagem de outrora, do mundo em que vivemos hoje. Sim, havia uma imagem perfeita e ela foi tirada de todos nós. Arrancada do nosso direito de usufruí-la. Decidiram por nós... Ou talvez o mais correto fosse dizer que ignoraram nossa vontade, ou até mesmo nossa própria existência.

Em tempos distantes, mas talvez nem tanto, havia um sentimento chamado amor. Era o que movia as pessoas. Motivava sonhos, suspiros e orgasmos. As pessoas viviam desse vício e de outro, chamado diversão. Existiam campos de futebol, clubes, parques e praias onde era possível nadar. As crianças podiam andar quando novas, sem o uso dos sustentadores implantados em seus membros inferiores. Eram saudáveis. Não nasciam assim, deformadas, com essas pernas molengas e com esses braços cheios de ventosas asquerosas.

Não me olhem assim! Somos asquerosos sim, devemos reconhecer. Basta olhar para os registros de como eram as pessoas antigamente. A mais feia de todas as feias era ainda mais bonita que a nossa mais linda garota, se é que podemos chamá-la assim.

Basta! Senhoras e senhores! Não... Não pensem que estou aqui para ser intimidado por seus insultos e ameaças. Meu papel aqui é de vesti-los com um manto. Jogar sobre vocês a beleza que outrora vingou no planeta. Mas para isso, devo lembrá-los o que realmente somos...

Muito bem... Continuando...

Poesia. Vocês sabem o que é poesia? Era a forma como as pessoas que amavam a vida tinham de expulsar o amor excedente de seus peitos e mentes. Era o vômito cru das palavras mais belas ou mais malditas. Era o enxugar das lágrimas da poetisa apaixonada. A punição para o poeta arrependido por ter sido tão condescendente com as armas que lhe feriram. E havia pessoas dispostas a rir ou chorar com aquelas frases incertas. Pessoas que se sentiam felizes ao ler as estrofes, mergulhando em perguntas, conclusões e devaneios.

E o que temos hoje em nossas vidas? Poesia? Não... Nem o mais deprimente poeta seria capaz de imaginar uma condição tão execrável quanto a nossa.

O que foi? Nem pense em me expulsar daqui seu monte de merda... E não me olhe com essa cara de espanto. Fui pago para levá-los em uma viagem e é isso que vou fazer. Mas não estou aqui a troco de enganar ninguém, ou pelo menos não da forma como sua hipocrisia pretende me levar a fazer. Somos uma bela amostra dos erros dos nossos antepassados. Uma coletânea de resultados desastrosos, conseguidos através da ganância e pelo ego inflado dos poderosos de séculos atrás. Mas apesar de toda essa sujeira provocada por aqueles filhos de umas putas, não significa que não possamos enaltecer aos que pintavam o planeta com esperança, dignidade, com arte e com as escritas.

E chega de interrupções!

Pois bem... Apresento-lhes Camões... Drummond, Fernando e Florbela. Temos também Álvares, Machado, Os Veríssimos... Aqui, dois daqueles que talvez tenham se aproximado mais do que somos hoje... Augusto, meu preferido, e Byron.

Vejamos... Para as senhoras, apresento Jorge e Zélia... Aqui... para essa mocinha que vejo diante de mim, com seus 80 e poucos anos, estou certo? Ahhh... Uma bela idade... Tome um pouco de Alencar, mas se preferir lembrar-se de sua juventude depravada, que tal uma Hilda?

Alguém ai quer Dante? ...Barros? Ubaldo... Lobato... Allan Poe? Lovecraft? Hmmm... Não, H. P. nos aproximaria mais da nossa realidade. Não é uma boa opção agora. Bradbury também não... Vejamos... King também não...

Hmmm... Que tal Follett ou Agatha?

Filosofia? Não, não... Hoje não. Estamos aqui para viajar e não para queimar nossas pestanas. Calma pessoal... Calma... Aqui na caixa tem muito mais... Sirvam-se!

Mas se almejam algo novo e fresco, mas ao mesmo tempo com um toque nostálgico, ou se quiserem se sentir os mais belos seres na face da terra, venham até aqui, pois sou seu ilusionista do verbo...

Fecho teus olhos com minha voz e faço suas, as minhas palavras. Cubro tuas erupções cerebrais com um bonito véu do conhecimento e da fantasia. Um véu arrancado da maior de todas as bênçãos. Da maior e melhor herança que nos foi deixada por aqueles que causaram toda a nossa desgraça: a arte.

terça-feira, novembro 10, 2009

Merchan

Pensa que está de um lado, mas na verdade está do outro. Não tem chance alguma de erro, você não tirou os olhos do copinho. É o do meio! Ponto final. Mas novamente você se engana, a moeda está no copo da direita. Mais uma vez, você perdeu.
Sua mão se fecha de tal forma, que as unhas – recém cortadas – machucam a palma. A bolinha está lá. Mas aí, eu apareço, com a conversa segura e convicta de que ao abrir sua mão, não estará segurando nada. Você não acredita, mas começa a ficar em dúvida no momento em que, diante de seus olhos, puxo uma bolinha do bolso direito do paletó – seria a mesma? –, com o seu nome escrito nela. Foi você quem escreveu, eu não segurei essa bolinha em nenhum momento. Não deu outra; você abre a mão e não tinha nada além dos vergões provocados pela pressão que fez para garantir que nada fugisse de lá. O pior, é que fugiu! Como fui capaz de fazer isso, você se pergunta.
Seja com baralhos, com laranjas. Seja com guardanapos, bolinhas ou com elefantes. Existem pessoas que descobrem segredos da ciência, da física-quântica, da paranormalidade, ou seja lá que diabos seria! Essas pessoas usam esses artifícios para iludir, entreter. Divertir ou até mesmo sacanear. Deixamos quem assiste de queixos caídos diante das façanhas que somos capazes de fazer. Somos os verdadeiros ilusionistas. Mágicos. Ladrões. Trapaceiros. Charlatões. Chame como quiser. Nossa missão é provocar o conflito em sua cabeça.
Estamos aqui, essa semana, para nos apresentar como tais pessoas. Inicialmente reunidos em sete. Nomeie cada um como quiser, como melhor lhe agradar. Chame-nos como lhe der na telha. Nós iremos iludir suas mentes, independente do apelido.
Nossa habilidade é escrever e fazemos isso com as mãos. Então preste atenção no que vai ler, mas não se atreva a adivinhar o final, pois deve se lembrar sempre que... as mãos são mais rápidas do que os olhos.
O show vai começar, rufem os tambores (de novo!). Nós somos os ilusionistas do verbo!

O teatro ilusionista

Rufam os tambores, a cortina se abre;
O espetáculo se inicia.

***

- Enquanto aí vives tua vida
Envolto em afazeres, deveres... prazeres?
Tenho tido minha sina; por ti, não vista.

Da morte fria e gélida da desistência
Nada se espera depois.
E, como toda morte, não permite resistência:
Sem atrito, só há o frio, pois.

Aí jaz nosso amor; debaixo dessa lápide trépida
Nefasta e gélida, coberto pelo tempo e terra
Que um coveiro num buraco fétido jogou.

E hoje visito essa lápide.
Em nossa tumba vejo (através de fumaça e espelhos)
Nós dois, coveiro e cadáver, de mão dadas,
Revirando sempre juntos o cal com a pá
Cavando a terra como cavamos um no outro
Feridas na pele, que tão logo expostas,
Com terra, nos apressamos em tampar.

***

E é sutilmente que os personagens se esvaem,
Ao leve sopro da uma brisa, desvanecem no ar.
Fecham-se as cortinas, cessam os tambores.
Um homem de cartola toma o palco.
Com um gesto de mão, ágil e delicado,
Também sua imagem se distorce
Como se o ar fosse um lago de águas turvas
E com seu corpo ondulante em meio à névoa
Num solilóquio e com trejeitos de mágico
Recita ao mesmo tempo um epílogo e um epitáfio
Como se dissesse adeus o próprio espetáculo:

- E, por ora, não se assustem.
Pois, sou nada a não ser um enganador:
Camuflo pessoas em palavras
Disfarço morte em amor.



(Por favor, perdoem o atraso [de alguns minutos]. Não vai se repetir.)

domingo, novembro 08, 2009

A primeira ilusão


Pura ilusão essas palavras
Caídas sobre o ladrilho
Envolto de musgo
Na esquina do beco molhado
Fantasiada de verbos soltos
Desconexos com a realidade
Meramente pseudo-percepção

A fluidez revela algo contraditório
Cercado de (in)verdade
Inverso ao verso
Completamente ausente
Da essência essencial
Traduzida em ângulos
(trans)versos

Nada com nada
Releva o todo
Deste quase
Verso
Estrofe
Poema
Ilusão

Por Rene Serafim - "Juninho"

sexta-feira, novembro 06, 2009

Os Ilusionistas do Verbo




O "Ilusionistas" nasce da junção de sete escritores que não sabem o que sabem. Um blog cru,sem cortes,nada liso e audacioso em ser livre. Nada além do esboço e da desculpa para se fazer prosa e poesia. Um desencontro achado, real e ilusório em diferentes estilos para se brincar de mentir sobre a verdade.

Crônicas recém saídas das esquinas, contos de uma escuridão matinal e poesias de tiro na claridade. Cotidiano e fantasia, inventando muito, pouco e quase nada. Literatura sem culpa.

Embriague-se com nossos poemas ou degole nossos textos. Faça o que fizer, o verbo é seu.

M. D. Amado


M. D. Amado (Marcelo Dias Amado) é natural de Belo Horizonte, MG (com muito orgulho de comer pedaços de palavras e falar quase tudo no diminutivo). Foi cuspido no mundo em 17 de janeiro de 1969, sendo que 69 é sua dezena preferida. Divorciado, tem dois filhos maravilhosos (Bruno e Rafael) que graças a Deus, são normais e não seguem as idéias insanas do autor.

Analista de Sistemas por acidente, começou a escrever em 2004, inspirado nos contos de escritores nacionais como Richard Diegues, Rita Maria Félix e outros. Fã de Ken Follett, Edgar Allan Poe, Ray Bradbury, H. P. Lovecraft, Giulia Moon e outros, brinca com as palavras sem compromisso com gênero ou estilo literário.

Mantém desde 1996 o site Estronho e Esquésito onde além de publicar textos e curiosidades inusitadas, abre espaço para escritores nacionais de literatura fantástica publicarem seus contos e poesias, além de divulgarem seus livros e trabalhos literários diversos.

Em seu site particular mantém um portfólio com diversos contos, minicontos e poesias. Possui dois outros projetos paralelos. O Verberar, que traz apenas poesias e Entre Elas, um Amado, que é um blog de duetos com amigas das escritas, onde podem ser encontrados contos e poesias.

Autor da insanidade eletrônica, de nome "Empadas e Mortes", na qual o autor traz 17 contos de sua autoria, recheados com ironia e humor-negro. O e-book pode ser baixado gratuitamente em www.mdamado.com.br/empadas

M. D. também possui minicontos, poesias e textos publicados nos fanzines Terrorzine e Flores do Lado de Cima.

O autor participa das seguintes antologias nacionais:

  • Necrópole 2 – Histórias de Fantasmas
    (2005, Ed. Alaúde, Org. Richard Diegues);

  • Paradigmas Vol. 1
    (2009, Tarja Editorial, Org. Richard Diegues);

  • Paradigmas Vol . 4
    (previsto para 2010, Org.Richard Diegues);

  • Draculea – O livro secreto dos vampiros
    (2009, All Print, Org. Ademir Pascale);

  • Metamorfose – A fúria dos lobisomens
    (2009, All Print, Org. Ademir Pascale);

  • Poe 200 Anos - Contos inspirados em Edgar Allan Poe
    (2010, Ed. All Print, Org. Ademir Pascale);

  • Zumbis – Quem disse que eles estão mortos?
    [como autor convidado]
    (previsto para 2010, Ed. All Print, Org. Ademir Pascale);

  • O Grimoire dos Vampiros
    [como prefaciador e autor convidado]
    (2010, Ed. Literata, Org. Georgette Silen) ;


Atualmente organizando a antologia de poesias góticas e grotescas, "Letras aos Corvos" que sairá em 2010, pela editora Literatas.

Contatos:

Natacia Araújo




















Trabalhou durante anos no mercado de audiologia no qual dá suas "opinadas" até hoje. Ex quase futura fonoaudióloga e provavelmente eterna gerente comercial da Somritell Serviços Audiologicos.

É viciada em poesia desde o aconchego uterino. Mas foi nos movimentos poéticos que encontrou sua estadia definitiva.
Poeta marginal assumida, não tem a menor pretensão de publicar livros, muito menos de ser famosa, e acredita cegamente que literatura de fato é arte, e arte tem que estar nas ruas.

É fácil encontrá-la no centro do Rio juntamente com outros companheiros do teatro e da poesia de posse apenas de uma câmera nas mãos e versos nos lábios.

Engajada com teatro de rua e poesia marginal, desenvolve com a parceira de letras Liza e com outros apoiadores um projeto literário para as ladeiras do Rio de Janeiro, o movimento “Poesia Viva”, um projeto audacioso com o intuito de introduzir novamente ao cotidiano carioca a tão esquecida poesia.

Natacia não acredita no Lula, Buddy Pokes ou no Bispo Macedo, mas acredita de verdade que a poesia nacional tem seus novos grandes representantes, e foi com essa certeza que reuniu os amigos no projeto do blog “Ilusionistas do Verbo”.

Porque poesia boa não deve estar necessariamente restrita aos livros publicados, ela é de todos e deve ser acessível.


Mais em:

http://wwwinverso.blogspot.com/

http://legorniarte.blogspot.com/

http://fluoxetinacomcafe.blogspot.com/

Rene Serafim - "Juninho"


Na certidão de nascimento consta que nasceu em 25 de Fevereiro de 1985 na cidade de Uberlândia-MG. Filho da Tia Tânia e do Tio Rene - por isso o Juninho incorporado ao nome - é poeta e boêmio por opção e nas horas livres é professor de geografia da rede pública de São Paulo.

Possui um grande apreço pela ociosidade e pelos prazeres que a vida oferece. Há pouco tempo começou a escrever seus versos, entretanto constatou que a poesia sempre estivera presente em sua vida, ainda que reprimida, pronta para ser escrita e lida. Por isso não censura quando eles, os versos, querem se concretizar no papel.

Alimenta-se basicamente de Manoel de Barros, Manuel Bandeira, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Alice Ruiz, entre outros autores consagrados e de tantos outros não conhecidos, sendo que você talvez seja um deles.

Enfim, escreve na forma de versos, sem uma lógica ou uma tendência seguida a rigor para não limitar nem diminuir a amplitude da poesia.

Contato, blog e reticências:

Inefável Poesia
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renegoncalves_geo@yahoo.com.br (e-mail e MSN)

Leonardo Pezzella




Leonardo Pezzella Vieira da Silva, nascido em São Paulo capital no dia 25 de maio de 1983. Mas deixemos as formalidades de lado e falemos na primeira pessoa.

Sou formado em Engenharia de Produção Elétrica pela FEI em São Bernardo do Campo, estudante em reta final de Pós Graduação em Adm. de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e Universidade de San Diego-CA.

Deve estar se perguntando, mas que raio isso tudo tem a ver com a escrita? E eu lhe respondo... NADA!

Desde meus 14, 15 anos, jovem com sentimentos e emoções a flor da pele, descobri nas poesias uma válvula de escape para a fase turbulenta em que passava. Seria apenas uma fase se eu não tivesse ouvido a minha irmã que, na época, fazia TCC para a formação de seu curso dizer: "Mãe, o meu orientador é muito inteligente, ele já leu mais de 2.000 livros".

Batata! Minha ingênua e desnorteada cabeça associou: Ler 2.000 = Inteligente. Logooooo, pensei: "Porra, eu quero ser um cara inteligente, então tenho que ler 2.000 livros!".

Comecei a ler e gostei disso... Confesso que atualmente, ainda estou longe de ser um cara inteligente... assim como, estou longe de ter lido 2.000 livros. Mas a vida é longa e ainda busco por isso.

Enfim, com a leitura, descobri que tinha um gosto para escrever. Como meus escritores favoritos são àqueles clichês do terror, meu estilo não poderia ser diferente...

Resumo da história... graças a ajuda de pessoas que atuam no ramo literário, pude desenvolver minha escrita e abocanhar algumas oportunidades.

Bom, acho que isso é um pouco de mim, ordinário escritor, trabalhador que tem os pés no chão, mas as idéias... bem longe de qualquer lugar.

Ordinário escritor um dia escreveu: "A insanidade controla minha mente. Sou um desvairado que sofre daquilo que os normais chamam de loucura... Ou, seria apenas um outro meio de ver as coisas?"


Textos publicados:
Visões de São Paulo
(2007, Tarja Editoria, Org. Richard Diegues)

Paradigmas Vol. 1
(2009, Tarja Editorial, Org. Richard Diegues)

Paradigmas Vol. 4 - Lançamento em Janeiro!!!
(2010, Tarja Editorial, Org. Richard Diegues)





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