sexta-feira, outubro 29, 2010

Menos ainda, amor.

Não quero morada no teu coração.
Quero correr pelo teu sangue, entorpecer a tua mente, queimar a tua face, dilatar tuas pupilas.
Ser teu vício, teu destino mal dito e mal feito, sem escolhas e mil defeitos.
Viver em teus sonhos como pesadelos para que me tenha medo.
Não quero morada no teu coração.
Quero, descalça, pisar no teu chão sem flores e refazer as migalhas do que te resta. Arrancar-te o fôlego, a roupa e o resto.
Não quero morada no teu coração.
Quero teus suspiros de saudade.
Minha falta entre as tuas.
E no sereno desconcerto do que sentes, o susto e a surpresa:
- Não é nada.
Só uma aventura, uma sorte, um doce entre os dentes.
Não é nada, menos ainda, amor.
Paixão, com pouquíssimo pudor.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Mais que uma Folha

Na tempestade
à mercê do vento
Qual confio minha seiva,
Minhas palavras:

"Chamem pra roda
voz em vôo
Todos aqueles que me fazem dançar
Chamem a água e a terra; a Lua
Pois a noite que chega,
É jovem e Nova.
Chamem também o fogo e o ar:
O sol se vai, mas retornará.
E não se esqueçam
De convidar
Os filhos da noite e do dia,
E toda família
Todas as estrelas e astros do céu!"

Chega o momento
A fogueira se acende
A brisa a belisca
E no chão batido
Envolto por brumas
Solo e teto giram
E o tempo corre,
Cósmico.

O que era círculo,
Se põe numa reta:
O olho se fecha, maravilhado.
O consciente torna-se in
E a folha segue seu fluir,
Seu existir.

terça-feira, outubro 26, 2010

Você não me conhece

A gravata bem feita e a camisa de gola engomada podem te levar ao equívoco. Algumas coisas podem ser ditas através de uma rápida observação, outras não.
Sei como a lâmina do frio corta. Minha pele foi cortada inúmeras vezes por esse metal. Também sei como o ronronar da fome dói, pois ficar horas sem comer não é nada para quem passou dias. Talvez você saiba como é ruim andar algumas quadras com um sapato apertado, mas experimente caminhar meses sem um calçado no pé.
Calos, bolhas, cortes, assaduras. Dores. Você não sabe o que é sentir dor, eu sei! Eu passei por coisas que você jamais imaginou.
Não se iluda com o meu cabelo penteado e o cheiro do perfume que sente ao cruzar comigo no corredor. Você não me conhece. Não pense que cheguei aqui por sorte.
Roubei, pois tinha fome, frio, sede. Nunca tive dinheiro nas mãos para me livrar desses fantasmas. Se não estudei na hora certa, foi porque não tive a oportunidade. Mas nada disso é capaz de ditar meu comportamento. Não me venha com essa de destino. O destino é refúgio para fracos que não têm coragem de mudar sua própria condição. Eu lutei, eu me esforcei. Eu venci! Mudei aquilo que você diria ser o meu destino. Minha escolha foi deixar de ser pobre.
Supletivo, cursos públicos, dedicação e garra. Decidi mudar minha vida, e foi assim que superei o frio, a fome e a sede. Foi assim que conquistei um teto e não um concreto qualquer para ficar entre meus olhos e a poluição do céu.
Pensa que o carro que dirijo foi presente do meu pai? Acha que a casa que tenho foi feita por um arquiteto famoso? Não se precipite.
Meu passado me fez ser quem sou hoje. Então, não me julgue antes de ver os calos em minhas mãos e as cicatrizes nos meus pés. Você não me conhece.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Silêncio

Me peça silêncio.
E exija de mim a ação breve de te desejar sem pudor.
Só não me queira sorrisos demais.
Hoje minhas portas se trancararam.
Meus sons se calaram...
E o silêncio que vaga,
Me avisa que asas me levam daqui.

Me peça em silêncio,
Com os olhos de quem ama em momento.
E abrace com braços e pernas de quem não me quer distante, agora.
Por um momento, exija de mim versos que te fazem voar.
Só não me peça mais do que eu posso dar.
Minhas janelas se fecharam e já não vejo mais o mar.
E este silêncio necessário,
Emudece a voz de quem não canta dores em versos de amar.


Me silencie.
Me cale.
Tenha de mim, olhares.
Mãos nas suas...
E corpos unidos como um só.

Não será eterno, é certo.
Mas o céu vai se abrir em cores...
E a canção, em segredo, te dirá que teve de mim mais que a paz...
Silêncio...

quinta-feira, outubro 21, 2010

Confessionário

Ele disse, “Meu patrão se reelegeu, rapá! To susse!”. Era o fim da picada! Depois de um dia daqueles, eu ainda tive que escutar isso. Trabalho sério, sou mãe de dois filhos, dou duro na vida, pra ouvir um moleque daqueles, sim um moleque! Falando aquelas besteiras!

- E o que aconteceu? – me perguntou o homem ao meu lado pra quem eu contava a história.

- Aquele ônibus lotado, sem lugar direito pra respirar, aquele som ambiente que tenta nos acalmar, mas só nos estressa mais, e aquele moleque falando alto e dando risadas. Ele falava, “Sou assistente do gabinete dele, e ele disse nessas eleições que era pra gente trabalhar, que depois teríamos mais três anos de folga! E agora to tranqüilo! Hahaha”.

- Dentro do ônibus?

- Lotado! Fiquei incorfomada! Foi quando perdi a paciência! E disse na cara dele, “Seu babaca! Você é um babaca! Nós sabemos que a coisa funciona assim, mas precisa jogar na nossa cara? Você é um moleque babaca! Você e seu deputado!”.

- E aí?

- Ele me olhou assustado, com medo de ser jogado pra fora pela janela. Mas uma mulher quis se intrometer, disse, “Mas que mulher barraqueira! Que horror!”, Aí não agüentei. Chegou no meu limite. Virei pra ela, “Barraqueira? Nós trabalhando duro pra por pão e água em casa, pagando um imposto maior que nosso bolso, e esse filho da deputada toda debochando do país inteiro! Você é uma tonta, escutou? Pois é você que está pagando o salário desse debochado!”. Então voltei pro babaca, “Quem é o teu deputado, seu malandro?”. Ele ficou roxo, rosa, verde, e tudo mais, deve ter percebido a grande cagada que fez. Ficou quieto.

- E o resto do ônibus?

- Ficou dividido, oras. Entre o pessoal que ficou quieto fingindo que não era com eles, e os que me apoiavam, encarando o moleque.

- E ele? Respondeu?

- Não. Mas depois de eu perguntar algumas vezes, uma outra mulher, um pouco distante interrompeu a tortura, “Pode deixar, se ele não falar, eu descubro, sou promotora do tribunal! Descubro fácil quem é teu manda-chuva seu malandro! Quem mandou dar com a língua nos dentes!”.

- Bem feito!

- Bem feito mesmo! E quando eu tiver férias, pode ter certeza, vou correr de gabinete em gabinete, pra encontrá-lo de novo, e descobrir quem é o tal deputado. E falei isso pra ele.

- Incrível ele não ter apanhado!

- Foi por pouco. Mas ele desceu na primeira parada. Agora tenho que ir, meu ônibus chegou. Até mais!

- Até! E vamos ver como essa história acaba!

terça-feira, outubro 19, 2010

Grave!

É engraçado sair a noite, ver o agito dos bares, casas noturnas e restaurantes. Meus amigos são muito solidários e nunca me deixaram de fora de nenhuma dessas badaladas noites de farra. Mulheres lindas dançam. Eu flerto com elas, mas me mantenho alheio da pista de dança. Fico com minha bebida gelada na mão, o pé e a cabeça balançando suavemente de acordo com o grave que faz tremer os copos e garrafas. O grave faz tremer o meu peito!As garotas pensam que sou tímido, mas a verdade é que eu sou na minha. Confesso que uma vez ou outra, tento roubar um beijo, mas isso não é freqüente. Algumas mulheres se aproximam, jogam o seu charme e eu hesito. Sorrio, troco olhares, mas fico no meu canto.Sou modesto, mas deixarei a modéstia de lado para dizer que sou um cara atraente. Minha franja jogada, meu sorriso sedutor e meu olhar frio fazem um tremendo sucesso. Esse sucesso faz algumas garotas chegarem em mim. Mas as únicas que provaram do meu beijo foram aquelas que chegaram e me beijaram. As outras, pulei fora. É terrível dizer, mas pulei fora.O final da noite é sempre o mesmo: meus amigos tirando sarro de mim por sair zerado da balada. Eu não ligo, pois sei que eles estão apenas brincando. São irmãos de verdade dos quais jamais encontrarei igual. Eles não sabem como é, mas fazem idéia.Adoro a noite e adoro sair para baladas. A música eletrônica é a minha religião. Não tente me levar para um forró, um samba ou show de rock, pois em todos esses lugares eu vou sentir a falta do grave.Algumas noites, mesmo com o som bem alto da balada, fico pra baixo. Difícil encontrar alguém que não se anime com a música, afinal, é algo que nos faz bem. Mas mesmo assim, eu entristeço em alguns momentos. E isso acontece sempre quando as músicas não têm grave. Quando isso acontece, os copos não vibram. O meu peito não vibra. Quando isso acontece, eu não sinto a música.Você não faz idéia de como é triste nunca ter ouvido o som de qualquer coisa. Você não imagina como é viver sem nunca ter ouvido música... Eu não posso ouvir, apenas sentir. E é por isso que, para eu estar bem e para a música ser boa, essa música tem que ter grave! Só assim, serei capaz de sentir a música.
*para aqueles que já conheciam, desculpe por repetir. Estou viajando e não tive tempo de fazer nada inédito! Sorry ;)

quinta-feira, outubro 14, 2010

Gatos no forro

As batidas de suas patas o denunciavam. Era ele novamente. Aquele gato desgraçado em nosso forro. Como aquilo incomodava! Arranhava, corria, e me deixava nervoso. Aquela casa de madeira estava caindo e o que faltava era apenas um gato sobre nossas cabeças.
Abrimos o forro, aquela tampa velha e cheia de cupim que por muito tempo descansava inerte e criava centenas de teias de aranha. E naquele imenso negrume profundo surgiu sua face. Branca imunda e felpuda. Um felino asqueroso e tenebroso! Ao ver-nos arreganhou as presas e miou bravo! E no segundo seguinte, pulou sobre nossas cabeças. E no terceiro segundo, sumiu.
Nefeshy, a nossa pintcher, saiu em disparada atrás daquele demônio, e logo apareceu um outro gato, mais comportado lá em cima. Enquanto o outro pulava, a cachorra ia atrás do bicho, lá pro fundo da casa, até que o alcançou e eu só ouvi o barulho de carne rasgando, um último miado, e o silêncio.
Você pegou o que sobrou, e jogou fora.
Felizmente, o feitiço foi cortado pela raiz, antes que a gata desse filhotes.

terça-feira, outubro 12, 2010

Meu medo

Aquela perturbação e inquietação são nítidas aos olhos, nossas mãos tremem e na desesperada tentativa de ocultar o que acontece conosco, buscamos algo para nos apoiar, ou então, espalmamos a mão sobre a mesa ou sobre a perna.
A garganta seca dando início a tudo, sendo logo seguida pela boca e lábios. A saliva desaparece de nosso corpo e nos perguntamos para onde ela teria ido. Eu sei; para nossas axilas, palmas das mãos e às vezes para nossa nuca e pescoço. Suamos frio, sentimos o calafrio, sentimos o sangue gelar e parar de circular em nosso corpo. Mas isso seria contraditório, pois meu coração bate mais forte do que nunca, como se fosse explodir ou saltar pela garganta.
Nossos olhos, apesar de estar esbugalhados, pouco conseguem ver. Ou melhor dizendo, eles enxergam melhor do que nunca, mas na esmagadora maioria das vezes, só vemos uma coisa: aquilo que nos fez ficar dessa forma. Além disso, além do causador de nosso medo, não vemos mais nada. É como se estivéssemos enxergando através de um cano ou de um buraco de fechadura.
Retesados, rijos e sólidos como rocha. Nossos músculos demonstram a intensidade do efeito causado. E apesar de demonstrarem tamanha força, eles recusam-se a nos ajudar a tomar alguma ação. Seja reagir, correr ou apenas desfalecer.
Mas apesar disso tudo, não tenho nada contra o medo, pelo contrário. Relato com tamanho domínio no assunto, por ser um medroso nato. Tenho medo por mim, pelos outros e por aquilo que nem mesmo está próximo de mim. Sinto medo.
Mas existem momentos que, não sei por qual razão, eu não sinto medo. Permaneço frio e impassível, com a expressão firme e singular diante daquilo que deveria me trazer o medo. Em momentos como esse meus olhos deixam de ser amigáveis, meu sorriso desaparece e confesso que deixo de me reconhecer. Torno-me outra pessoa. E quando esse tipo de coisa acontece, sinto medo. Sinto muito medo de mim mesmo.

sexta-feira, outubro 08, 2010

O Sol Não Dorme

O Sol não dorme
Amanhece, amanhecemos.
Anoitece, anoitecemos.

E como camaleão, vamos nos adaptando...
Mudando as cores, mudando os tons...
Nos forçando a vestir de realidade...
E nas fugas interiores, brincando de ser quem somos...
Encenando personagens que existem no elo entre nossa sabedoria e nossa loucura...

E o que não nos deixa morrer?...
E o que acorda nosso sonhos evitando que eles durmam para sempre de tão cansados?...
Parece e pode ser algo maior...
Intenso, insensato, inexplicável.
Talvez o tempo...
Ou, talvez algo que habita em nós, além do tempo que faz moradia dentro e fora de qualquer ser humano...

Passamos por sombras...
Desastres, desatinos...
Mas há uma doce misericórdia por nós:
A certeza de que tudo passará um dia...
Talvez passe no mesmo flash que chegou a dor...
Ou, talvez... dure o tempo de compor muitas melodias...

Mas, ainda que vivam as lembranças...
Viveremos a expectativa maior de sermos mais...
De termos mais... De sermos maiores...

É também doce a espera pelo o arco-íris...

As tempestades se farão sempre... Inevitável...
Mas, nenhuma tempestade vai embora sem deixar o colorido que esperamos...

O Sol não dorme...

quinta-feira, outubro 07, 2010

Em Tarde Ser Sereno

Um grão de terra morna,
A ouvir as cigarras em côro,
A se agasalhar com a brisa,
Que nasce por trás dos morros.

Do galho ali, ao horizonte
Cantam os sabiás,
Que tentam trazer de volta
O colorido que dissipará.

Perfumam-se com a vinda do véu,
As flores que vivem de estrelas.
Aprumam seus vestidos de pétalas,
Para o baile da lua cheia.

Os quentes das cores vivem eternamente,
Com a sinfonia da primavera,
Em tarde ser sereno
Para a noite ser mais bela.

terça-feira, outubro 05, 2010

Se... porque

"Se eu durmo tarde,
foi porque você me prendeu aqui.

Se eu perco a hora,
foi porque fiz cera pensando em você.

Se passo dias sem comer,
é porque seu amor me alimenta.

Se eu ando distraido,
é porque só existe você em minha cabeça.

Mas...

Se hoje eu choro,
é porque sinto sua falta.

Se hoje fico triste,
é porque preciso de você por perto.

Se hoje estou fraco,
é porque me falta a sua força.

Se hoje estou morrendo,
é porque me falta a vida...

É porque eu vivo você!"

segunda-feira, outubro 04, 2010

Projeto Ficcional (pt 2 - fim)

Primeira parte aqui.

***


Ele se levanta e põe as mãos nos ombros dela. Ela está olhando para baixo, em silêncio. Os dois permanecem assim por vários segundos. Ele a abraça. Tec tec tec. “Como vai o seu ensaio?”, ela pergunta. “Vai mal”, ele responde, “cada vez mais eu percebo como é impossível representar o amor, o desejo na arte através de uma linguagem fria, não apaixonada.” “Entendo.” Ele desenlaça os braços dela, vai até a janela e fica olhando o mar, as ondas batendo e voltando, a espuma surgindo e morrendo no caminho de volta. “O que eu mais sinto falta nesse trabalho é de um personagem pra viver precisamente aquilo que eu estou analisando. Assim a coisa se tornaria eloquente por si só, e aboliria qualquer necessidade de um raciocínio lógico e embasado.” Ele se vira e olha para ela. “Você sabe que é minha musa inspiradora. Não sei o que seria de mim e de minha carreira sem acordar de manhã e encontrar sua beleza na cozinha ainda de camisola. Ainda não te mostrei aquele conto que escrevi sobre você.”

Ela o escuta com atenção. Ele termina de falar e ela percebe sua expressão ficar subitamente séria. Ele começa a andar na direção dela. O caminho da janela até ela é longo. Uma onda atravessa o seu corpo. Ela se inclina para o lado, a alça da camisola cai. Ele a beija na testa calor e diz que precisa voltar ao trabalho, e se senta novamente em frente a máquina. Tec t-

Ela sente seu estômago queimar. Vai até ele, põe a mão nos seus ombros, dá-lhe um beijo na bochecha. “Meu amor, me explica melhor o seu ensaio. Por favor. É um pedido da sua musa.” Ele olha para ela e abre um sorriso enorme.

Ela agora está sozinha. Olha para o mar. Sente algo cozinhando em seu ventre.

“Claro que eu explico. Primeiro eu escrevi uma ficção onde eu tentava me autorepresentar como uma figura fria que era incapaz de sentir desejo, Uma coisa morta é isso que eu sou, uma coisa morta, fruto do desejo interrompido, eliminado, a semente desgastada de um falo inútil, que dá a vida mas não a vive mesmo ele estando bem diante de mim, e tentei trazer a isso uma questão mais geral, sobre a incapacidade de se falar de fato sobre a arte de modo não-artístico. que tem a chama a queimar eternamente, consumindo a si própria, incinerando as entranhas no calor infinito, o inferno do desejo, do ardor, O próprio personagem teria a consciência da sua frieza e falharia ao ser posto em conflito com o desejo real. Mas mesmo ele tendo a consciência do problema ele não conseguiria superá-lo, pois no fim das contas é impossível falar de certas coisas a não ser por meio da ficção, e a autoconsciência metalinguística é só uma coisa cerebral. que resiste ao vento frio, que se se mantém quando o universo congela, sinto o vento frio e nada posso fazer pois não apago, continuo queimando, tudo queima, arde, dói, faminta incendeio florestas inteiras, desmato a vegetação e elimino toda a vida em busca da fruta suculenta, que é cabornizada no meu toque O conto em si seria a representação disso tudo. As falhas são óbvias, mas tentei trabalhá-las dentro da verossimilhança, meio que me antecipando aos problemas que eu próprio teria criado. Sou uma aranha nessa floresta de fogo sendo devorada pela minha cria, sofro o castigo eterno de um deus, sou parte de um infinito tecer de um ser nojento curvado sobre si mesmo que me tece e em seguida me suga a vida para si próprio criar as suas O trabalho conteria em sua estrutura essa incapacidade, e no fundo passaria a ideia de que só é realmente possível trabalhar o desejo através da narrativa, como trabalham os mitos dos deuses gregos, e qualquer tentativa de autoconsciência levaria invariavelmente ao fracasso. E dentro do conto, você é o contraponto a essa frieza, com sua beleza, seu frescor juvenil, seu estatuto, para mim, de deusa. sou bela mas minha beleza é tomada de mim, sou a espuma do mar eternamente contemplada pelos amantes que tomam meu amor para me observarem nascer e morrer no belo rítmo das ondas sou essa música eterna crescendo crescendo crescendo crescendo

Para completar, o ensaio seria a última camada lógica e racional da análise da minha própria ficção.” crescendo crescendo crescendo. Ele termina, e o silêncio do quarto torna-se palpável. até sair.

sexta-feira, outubro 01, 2010

Prenda-me "Em Canto"

Me prenda.
Me abrace.
Não desfaça as amarras.
Me queira presa em teus braços.
Sou livre quando algemada em teu gosto.

Adentre sem bater.
Quero tua voz fingindo promessas de amor.
Ser teu sono, tua falta, teu engano, teu calor...

Transformar teu sonho, paisagem.
Riviver estrelas no mar do Arpoardor.

Borde em meus cabelos teus carinhos.
Grave em mim tuas palavras.
Beba em minha boca o que te mata a sede.

Intensifique as notas e aumente os tons.
Me viva em cada refrão.
Me consuma.
Me ame em cada pedaço de chão.

Mate e reviva teu peito em meus tambores.
Sou quase som quando ouço tua voz.
Sou quase poesia quando me prendo no teu beijo.
Sou quase céu quando te tenho sol.
Sou quase lua quando te tenho noite.

Me amarre em seus versos.
E não me solte em rimas.
Quero ser a melodia dos teus passos
A caminhar pelas estrelas do meu chão.
Quero ser prisioneira da tua canção.
Prenda-me, encanto. Em canto.