quarta-feira, agosto 04, 2010

O Preto e o branco pintam as cores de que eu preciso

Já me cansei dos quadros de cores amargas.
Pintava minhas cenas em tons previamente determinados,
pensando que as cores quentes trariam excitação
e que os tons pastéis pintariam romances rosados.

Me cansei das formas convencionais.
Moldava minhas telas em quadros normais,
achando que as bordas perfeitas, assim o eram
e que os pincéis não poderiam ultrapassar os limites.

Hoje eu prefiro a vida em preto e branco.
Sem medo que as folhas secas caiam sobre a tela,
sem me preocupar se insetos secaram sobre a tinta
e deixando que os pincéis criem vida.

Ali no canto, os tons cinzas podem dizer muito
e eu não preciso saber com antecedência.
Os olhos apenas fotografam o momento
enquanto deixo a luz se encarregar do resto.

Aquela poça, pode ser vinho escorrido de uma taça,
pode ser sangue de um corpo sem vida
ou água da chuva ou do chuveiro.
Podem ser as lágrimas de uma caneta tinteiro.

A rua pode ser um rio, a curva pode ser um fio,
pode ser um traço perdido ou um braço estendido.
O preto e o branco podem ser o roxo e o gelo,
podem ser um abraço ou um atropelo.

E num suspiro de final de tarde, reflito...
Para que preciso de cores pintadas em falso,
se tenho nos tons de cinza a vida correndo em tons reais?
Por que não deixar que os olhos sintam seus próprios sabores?

Não quero mais cores amargas, nem telas simétricas
Quero meus panos tortos, órfãos de molduras.
E as únicas cores que me permitirei pintar,
virão dos tons verdes e azuis de um certo olhar.

Um comentário:

  1. Mesmo quando as cores não estão nas telas, nas fotografias e nas paisagens que vemos, elas sempre estarão nos olhos de quem observa.

    Brilhante texte, brother!
    Ofuscou as minhas cores... hehehe!
    Abraço!

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