quinta-feira, novembro 18, 2010

Incorpóreo

No pé da janela,
A mão sobe a xícara de café.
Quero ficar acordado essa tarde.
À olhar os vagantes lá em baixo
Nesse calçadão cinza
Embaixo de um céu ainda mais dessa cor.

Fico a pensar nesse frio. Agasalhado.
Porque será estou aqui,
E eles lá a vagar com seus guarda-chuvas.
Formas coloridas colorindo as ruas.
Um olhar a vagar de corpo em corpo,
Adivinhando desejos, passados e pensamentos.
Um observador imaterial.

Poderia eu ser um deles,
Esquecendo-me tanto assim de mim,
Que deixo meu corpo
Para minha alma vagar nesse ar gelado
Sem sentir frio.

Sim,
O observador não existe a olho nu.
O olhar é a captura do imaginário para o imaginário
Tornando o irreal, palpável menos ainda.
Poderia eu ser um deles,
Ou eles serem meus personagens:
Fazer o que fazem, nos meus papéis.

Poderiam eles ser um eu?
Se de fato, existem,
Não apenas em minha cabeça...
Penso, penso... logo existo.
Será que os outros existem para mim enquanto penso?
Poderiam ser partes de mim
Se não fossem apenas:
Eles?

Mas por enquanto,
Sou apenas uma mosca,
Incorpórea, aérea, etérea,
Vagueando vidas alheias
E sorvendo minha cafeína.
Enquanto vivo a vida de outros.

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