terça-feira, maio 17, 2011

Papel de pão

Não importa onde vai ser. Pode ser de pé no metro apertado, naquele empurra-empurra que só quem está no meio sabe o que é. Ou então, pode ser sentado, naquele pula-pula do ônibus que trafega pelas planas e límpidas ruas de São Paulo.
Você já imaginou a mais linda e romântica poesia, capaz de fazer seu coração bater acelerado e as lágrimas correrem de seus olhos? Talvez, tenha lido e sentido isso e não apenas imaginado. Mas então, imagine o autor no momento de sua criação. Ele pode ter escrito na mesa do jantar, ao lado de um prato de lasanha, derrubando molho na camisa e cuspindo queijo ralado enquanto fala. Sim, eu sei que isso não soa poético, mas pode ser verdade.
Pense naquela música que marcou o seu primeiro beijo. Ou então, a música tema que escolheu para seu casamento. Estaria o autor da música sóbrio quando a compôs? Não poderia ele estar drogado, cercado de seringas ou com pó no canto do nariz? Vai saber...
A questão é... o importante para um escritor e sua obra, não é o momento em que ela foi criada. Não importa o que o escritor está sentindo. O importante é: o que a obra dele vai proporcionar a você? O importante é: quão intensa será a sua leitura?
Não importa se escrevi isso num dia de chuva, de pé na cozinha ou deitado no meu quarto. Não faz diferença alguma se escrevi isso sentado na privada ou em papel de carta. Não importa a ocasião, o texto pode ser escrito até mesmo no papel de pão. Cabe a nós, escritores, proporcionar um texto que mexa com o seu leitor. Que mexa com você. E isso é o que nos faz continuar escrevendo; faça chuva, faça sol.

2 comentários:

  1. Penso que você tem razão. E ainda complemento que o que realmente importa é o nosso contexto histórico, nossa visão de mundo, nossas referências. Talvez se eu não fosse 'essa Natália' eu não teria entendido o seu texto como entendi. A leitura é muito relativa, cada texto pode ser diferente para cada pessoa.

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  2. Fazendo chuva, sol, os versos precisam romper a barreira das idéias e invadir o papel, tela, como for vai assim escorrendo e contaminado tudo.. gostei! bonito.. poético, sensível!

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