domingo, agosto 08, 2010

Você estava lá

Eu tinha certeza de que aquela seria a última chance. Olhei para todos os lados, mas não encontrei você. Ouvi o disparo e pulei. Prendi a respiração por muito tempo, acho que por um tempo o qual eu nunca tinha conseguido antes. Usei toda a força do meu frágil corpo, superei as dificuldades respiratórias que protagonizaram o meu início naquele esporte. Fui mais ágil que os outros. Eu venci! Ouvi aplausos, elogios e aquele monte de gente desconhecida comemorando. Procurei inutilmente, mais uma vez. Você não estava lá.
Meu estômago doía tão insuportavelmente quanto a minha canela. Meus olhos mal conseguiam enxergar em função do suor e daquele sufocante capacete. As luvas cansavam meus braços, e o protetor no peito mais me desgastava do que me protegia. Antes do terceiro e último round começar, olhei a cadeira a qual deveria te encontrar, mas não te encontrei. A pancada no estômago me trouxe a realidade novamente e por pouco não fiquei sem ar. Consegui me esquivar dos outros golpes e reagir. Usei ambas as pernas para chutar o meu adversário e marcar pontos importantes. Desferi dois golpes certeiros em seu peito e por fim, venci. No ponto mais alto do pódio, recebendo a medalha mais desejada, procurei por seu sorriso, mas ele não estava lá.
Minhas pernas estavam cansadas, os músculos estavam latejando. Estava inseguro e assustado, era muita responsabilidade. O professor conversou comigo, como se soubesse o que sentia. Deu-me uma atenção especial, injetando força e confiança. Ele me mostrou que podia contar comigo e que eu não o decepcionaria. Foi aí que olhei a arquibancada na incessante procura do seu rosto. Mas você não estava lá. Meus amigos fizeram a parte deles, assim como o nosso goleiro, que defendeu o último chute do outro time. Era a minha vez, eu só precisava marcar o gol. O campeonato estava em meus pés. Caminhei em direção a marca do pênalti, olhando sobre meu ombro, procurando você. Ajeitei a bola, tomei a devida distância e bati com perfeição. Durante a corrida, a musculatura cansada não fraquejou, nem mesmo a incerteza do lado em que eu chutaria a bola. Eu coloquei a bola onde queria. Fiz o gol e meu time venceu, mas você não estava lá.
Todos os anos, quando chega esse dia eu me entristeço. Depois que você partiu, eu nunca mais encontrei o seu rosto para compartilhar comigo as vitórias e fracassos que enfrentei ao longo da vida. Mas depois de tanto ter chorado, depois de tanto ter lamentado a sua ausência eu pude perceber que aquele fôlego extra, aquela agilidade que precisei e a calma e tranqüilidade para o chute perfeito, foram graças a você. Foram nos momentos em que procurei pelo seu rosto e que não o encontrei, que você veio até mim. Foram naqueles momentos em que você me provou que estava lá. Você estava lá, meu pai! E só eu sei que estava!

2 comentários:

  1. muito criativ o texto ^^
    **estou sem palavras para descrever kk

    http://kingdom-of-my-heart.blogspot.com

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  2. ótimo texto Léo.
    Continue escrevendo.

    Davi Leitão

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