terça-feira, setembro 14, 2010

Revolta das sombras

O ruído do sapato quebrou o silêncio da noite. O rapaz corria com dificuldades, pois já estava correndo há muito tempo. Buscava um lugar seguro, escuro ou repleto de luzes. Foi isso que pensou. Mas não encontrava nada parecido e por isso corria.
Olhava para trás com o pânico nos olhos e já pensando em se entregar. Dobrou mais dois quarteirões e desistiu. Começou a caminhar, não quis olhar para trás. Fechou os olhos. Foi quando sentiu seu corpo ser puxado, o frio percorreu seus membros e a escuridão cobriu seus olhos. Estava morto.
A cidade estava em caos, pois era o 14º desaparecimento naquela semana. Nenhum corpo encontrado, nenhum vestígio, nenhuma pista. Não havia perfil para vítimas e a única coisa que se sabia, é que os desaparecimentos ocorreram durante a noite e com pessoas que estavam sozinhas.
Ninguém mais permanecia nas ruas depois do pôr do sol. O medo era geral, e nem mesmo as autoridades arriscaram alguma atitude.
O lar era a única salvação. Era a segurança. Mas não tardou para ser o lugar mais perigoso para se ficar. As pessoas começaram a desaparecer dentro de suas próprias casas. Nenhum sinal de tortura, armas ou de uma entrada forçada nas casas. Pelo contrário, o lugar sempre estava como fora deixado no dia anterior.
Não havia mais uma noite segura. Alguns buscaram se mudar, outros buscaram se reunir para passar as noites. Mas isso não impedia que novos ataques ocorressem. Era algo silencioso, sutil e definitivamente mortal.
A jovem garota estava tendo pesadelos e acordou no meio da noite. Estava assustada, mas algo dentro de si a impediu de gritar. Ao contrário disso, caminhou lentamente para o quarto dos pais. A porta estava entreaberta e pode ver uma delicada claridade que entrava pela janela do quarto.
Assim que pensou em entrar no quarto, recuou. Notou que a sombra formada pela janela tinha se mexido. Pensou num gato ou num galho de árvore, mas a sombra continuava se movendo. O retângulo formado pela janela mudou de direção e sua claridade subia pela cama de seus pais. Não sabia o que estava acontecendo, mas logo descobriu. A claridade da janela estava sobre o rosto de seus pais e, de uma forma mágica, ela foi diminuindo. Quando a claridade da janela desapareceu, o corpo de seus pais não estava mais lá.
Gritou. Entrou em desespero. Tinha acabado de ver a sombra da janela ‘engolir’ seus pais. Virou-se para correr, mas a claridade da janela já tinha voltado ao normal; tal claridade, tinha formado a sombra de seu corpo. Calou-se, e ainda soluçando, pode ver sua sombra abrindo os braços e lhe abraçando. Um abraço frio, um abraço escuro. Não gritou, não chorou, e nem teve medo; estava morta.
Com o passar das semanas, as pessoas foram sendo exterminadas. A cidade ficou vazia; não havia mais nenhuma pessoa. Não havia nenhum corpo. Não havia mais nada.
Os braços das sombras levavam a morte e eles se estenderam para as cidades vizinhas; em seguida, para os outros estados. Cruzaram paises e continentes. Quando o mundo se deu conta da revolta das sombras... ele não mais existia. Pois a sombra da lua engoliu a Terra.

Um comentário:

  1. Eu sempre desconfie dessa história de "Vai pela Sombra"...
    Muito bom Leonardo, desculpe a demora em visitar o blog, sabe como é, as vezes eu tenho que trabalhar.
    Abraços

    Davi Leitão

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