quinta-feira, outubro 21, 2010

Confessionário

Ele disse, “Meu patrão se reelegeu, rapá! To susse!”. Era o fim da picada! Depois de um dia daqueles, eu ainda tive que escutar isso. Trabalho sério, sou mãe de dois filhos, dou duro na vida, pra ouvir um moleque daqueles, sim um moleque! Falando aquelas besteiras!

- E o que aconteceu? – me perguntou o homem ao meu lado pra quem eu contava a história.

- Aquele ônibus lotado, sem lugar direito pra respirar, aquele som ambiente que tenta nos acalmar, mas só nos estressa mais, e aquele moleque falando alto e dando risadas. Ele falava, “Sou assistente do gabinete dele, e ele disse nessas eleições que era pra gente trabalhar, que depois teríamos mais três anos de folga! E agora to tranqüilo! Hahaha”.

- Dentro do ônibus?

- Lotado! Fiquei incorfomada! Foi quando perdi a paciência! E disse na cara dele, “Seu babaca! Você é um babaca! Nós sabemos que a coisa funciona assim, mas precisa jogar na nossa cara? Você é um moleque babaca! Você e seu deputado!”.

- E aí?

- Ele me olhou assustado, com medo de ser jogado pra fora pela janela. Mas uma mulher quis se intrometer, disse, “Mas que mulher barraqueira! Que horror!”, Aí não agüentei. Chegou no meu limite. Virei pra ela, “Barraqueira? Nós trabalhando duro pra por pão e água em casa, pagando um imposto maior que nosso bolso, e esse filho da deputada toda debochando do país inteiro! Você é uma tonta, escutou? Pois é você que está pagando o salário desse debochado!”. Então voltei pro babaca, “Quem é o teu deputado, seu malandro?”. Ele ficou roxo, rosa, verde, e tudo mais, deve ter percebido a grande cagada que fez. Ficou quieto.

- E o resto do ônibus?

- Ficou dividido, oras. Entre o pessoal que ficou quieto fingindo que não era com eles, e os que me apoiavam, encarando o moleque.

- E ele? Respondeu?

- Não. Mas depois de eu perguntar algumas vezes, uma outra mulher, um pouco distante interrompeu a tortura, “Pode deixar, se ele não falar, eu descubro, sou promotora do tribunal! Descubro fácil quem é teu manda-chuva seu malandro! Quem mandou dar com a língua nos dentes!”.

- Bem feito!

- Bem feito mesmo! E quando eu tiver férias, pode ter certeza, vou correr de gabinete em gabinete, pra encontrá-lo de novo, e descobrir quem é o tal deputado. E falei isso pra ele.

- Incrível ele não ter apanhado!

- Foi por pouco. Mas ele desceu na primeira parada. Agora tenho que ir, meu ônibus chegou. Até mais!

- Até! E vamos ver como essa história acaba!

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