terça-feira, junho 08, 2010

Fotografia

As palavras não chegam aos meus ouvidos. O som não me atinge como antigamente. Preciso crer em meus olhos e nos gestos! Assim como escutar, eu não consigo momentaneamente dizer nada, apenas observar. Observo como se estivesse olhando aquela fotografia, que nem mesmo o tempo foi capaz de destruir. Ela vai ficar por toda a eternidade em minha memória.
Tento balbuciar algo, dizer alguma coisa, nem que gaguejando... mas não consigo! Aquilo que vejo, parece com aquilo que vi, com aquilo que está registrado em uma antiga fotografia, onde o tempo conseguiu apenas roubar um pouco de sua cor.
Sinto suas mãos em meus ombros, carinhosamente me confortando enquanto que, suavemente, tenta me trazer de volta à realidade. Continuo incapaz de ouvir o que diz, assim como, continuo inutilmente tentando dizer algo. Sem sucesso.
As cores vivas são muito mais fortes do que eu era capaz de lembrar. Meus olhos podem parecer tristes, mas acho que é o segundo momento mais feliz da minha vida – o primeiro, foi quando tirei a fotografia. Continuo indiferente ao seu carinhoso toque, porém, desta vez, você desistiu de falar. Era inútil, eu não estava dando-lhe atenção. Só havia uma coisa em que eu podia fazer... Observar.
Os minutos passam, as cores me preenchem, volto a comparar aquilo que vejo com a fotografia que tirei há cerca de 70 anos atrás e sou vencido pelas lágrimas. Começo a chorar timidamente, mas logo sou vencido pelo soluço e pela insuportável alegria.
Você toma a fotografia das minhas mãos, impedindo que eu a amasse involuntariamente e deixa a marca de seu batom em minha bochecha. Enquanto me recupero da emoção, você observa minha anotação atrás da fotografia: “1942 – Pôr do sol em algum lugar do Brasil” e diz em meu ouvido:
- Feliz aniversário, papai!
Sou grato a minha filha, pois foi a partir dessas palavras, que eu voltei a ouvir novamente.

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