terça-feira, junho 01, 2010

A morte dela

Encosto a cabeça no seu colo, sinto seu suave e delicado toque. As mãos calejadas do trabalho duro se mostram sutis aos me conformar. Minha cabeça lateja de tanto que chorei. Meus olhos, ainda úmidos, não conseguem fazer mais lágrimas – foram tantas.
Por outro lado, seu rosto continua duro e frio, como se estivesse vendo o pôr do sol na varanda de nossa casa. Mas no fundo, tenho certeza que está sofrendo. Sei que deve estar fazendo a mesma pergunta que eu: como iremos viver sem ela?
Poderíamos nos mudar, tentar algo diferente, mas esse é o nosso lar. Não seria justo deixar para trás aquilo que construímos. Meu pai não sabe ler, nem escrever, a terra é nosso único sustento. Não temos chance em outro lugar.
Papai inspirou profundamente e por um breve momento, pensei que ele estivesse tentando se juntar a ela. Mas em seguida, ele expirou demoradamente. Baixou seus olhos e, quando encontraram os meus, esboçou um sorriso no canto dos lábios rachados e judiados pelo tempo.
- O que faremos, papai? – perguntei
- A única coisa que nos resta fazer, meu filho. Comprar outra bezerra.

2 comentários: