domingo, janeiro 31, 2010

Quando tudo fica assim

a sombra
me queima
como o sol
que se põe

poema
só queima
quando a palvra
corrói

prosa
não queima
nem mesmo
destrói

e essa poesia?

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Talvez seja preciso.

Será preciso ter a sensação de estar perdendo tempo ao deixar as portas e janelas sempre abertas sem nenhum medo de que algo ou alguém entre ou saia sem avisos prévios?

Será preciso uma avaliação criteriosa sobre tudo que voa e repousa leve nestes meus braços que sempre acolhem aflições que nem sempre são minhas?

Talvez seja preciso me colocar limites que nunca me dou. Ou ainda, deixar que o medo, às vezes me faça visitas breves. Porque também é importante ter a sensação de que pode dar tudo errado só para ter o gosto bom de vencer obstáculos que inexistem aos olhos de quem não vê tempestade como fenômeno físico destruidor.

Talvez eu tenha que equilibrar todo este sentimento que se une em prol de mais sentimentos ainda. E tenha que parar de plantar em solos férteis esta semente de amor que só tem brotado no meu chão.

Talvez todo este meu exagero que me faz voar tão alto, me distancie da simplicidade que é colher uma flor e enfeitar meus cabelos.

Talvez eu tenha mesmo que fechar a porta em dias de chuva e solidão. Nestes dias que todos os desabrigados procuram abrigo. Só para me sentir necessária. Porque não é todo dia que "mentiras sinceras me interessam".

Preciso é ter consciência do que é precioso. E fazer a triagem, mesmo que ela incomode e me faça descer do muro.

Preciso entender que eu sou só mais alguém. Sem muitos conceitos diferentes. Sem muitas experiências magníficas.

Preciso aceitar que todo mundo, um dia, fecha portas e janelas... e por motivos que são só delas, sem a menor necessidade de compartilhar das dores com mais ninguém.

Preciso mesmo é saber que se a luz tiver que entrar... ela entra mesmo que seja pelas frestas...



Débora Andrade

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Presságios Para o Ano do Tigre

Que vire a lua,
Que venha
Que o búfalo vá em paz
E dê sua vez
Ao felino rajado

Guarde o tempo
Oh fera selvagem!
Que tua hora chegou
Brilhe teus olhos ardentes
De brasas tão quentes
Como nunca brilhou!

Mostre tuas garras,
Lutador voraz
Sabe que destino é inefável?
Portas e portas
Rotas tão tortas
Mas de vitória inevitável!

Habita o escuro,
Mas a luz já desponta no horizonte.
Já vejo a tua face e tuas listras,
De negro e laranja, sagaz,
Teu suave avanço ameaça em paz,
Senhor feroz e pacifista!

Saiam tigres das cavernas!
O sol nasce para vós!
E a lua cintila à teu favor!
Busque sua sorte!
Passa longe tua morte!
Prove que é filho do calor!

Tigre de fogo!
Nascido na forja,
Quão artista foi teu ferreiro
Que fundiu seu coração
E tua cabeça com talhadas mãos.
Eis meu orgulho de ser de ti,
Herdeiro!

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Ciclo do vento frio

Dos impróprios ventos que te gelam
vem a força da morte que te acompanha
Espasmos de vida inútil cercam teus dias infindáveis
lançando um sopro de amargo beijo

Beijos sem propósitos
Disfarces de um sentimento impuro
Amor é balela... Resto de ilusão
Cumpra seu tempo, com menos que precisa
Corte tudo ao redor
Molde tuas casas, imensas, vazias
Mude
Mudo
Cale-se para o vento
Ouça o que ele tem a lhe dizer
Congele-se diante dele

Da frieza da tua pele
sairão os vermes que te consomem em vida
Na morte espalham tua essência
Pedaços digeridos entranhando na terra,
alimentando novas flores

A menina que passeia no parque sente o perfume da rosa
Inala teus restos pútridos banhados em pétalas
E assim continuas teu ciclo

sábado, janeiro 23, 2010

Santa fêmea

E na rapidez do ódio, Maria entra na valsa
Santa Maria desligada na televisão
Overdose de água benta
A virgindade de Maria salta dos olhos
Tem passos curtos, rasteiros, mas o sal dos olhos a fazem querer gozar
Santa Maria, desnuda da água imunda!
Santa Maria mãe de Deus: a hóstia tem uma mágoa dissimulada
Jamais lubrifique minhas pálpebras
Dona do feto sem choro és tu Santa Senhora
E do que nasceu, não era teu
Sua dor era a ânsia do descaminho
Rasgar a cólera nos corpos dos outros
Divina ciência, sem preces ou deuses
Procissão maquiada de uma fêmea
Nos seios de Maria o profano
Esconde no véu cada orgasmo ateu
Manteve em sussurros o sagrado gosto de outros mundos.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Segundos de Prazer

E de novo chegas, toma meu corpo e meu espírito
Regenera minha carne enegrecida pela podridão
Meu sangue volta a correr pelas veias antes petrificadas
Abres a boca para libertar teus vermes e os expele sobre mim
Outra vez me completo com aquilo que não queres mais
Bebo da sua fonte, vício maldito que permeia minha pele
Sinto tua essência a invadir meus poros
Transpiro sangue, transpiro escárnio
A vida me acaricia o peito novamente

Sopro o hálito putrefato sobre tua face
Inspiras meu bafo e entrega-se ao mórbido sorriso
de me ver respirando a morte

Mas cruel como tu és, me tira o alívio de imediato
Mais uma vez penetra minha carne com a estaca
Me paralisa diante de teu eminente beijo
Não me deixa sentir teu gosto fúnebre que tanto amo

Sórdida, mórbida, sem escrúpulos, vais embora
Fico a te esperar mais uma vez, pois não tenho escolha
Segundos de prazer...

É o que tens para mim
É o que quero de ti

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Fluxo de consciência

Para se ler d'um fôlego só e depois bem devagar...



Foi contemplando um relâmpago que uma manada de pássaros varando meu teatrinho erótico a jogar contra a minha consciência a minha mal-agradecida saudade da solidão passou por mim feito um trovão que nos acorda de madrugada e me rasgou a felicidade de não estar mais só, como o pivete rasga a garganta de alguém compadecido de sua miséria após entregar-lhe alguns trocados e eu num fluxo eu imaginei ela lendo todas essas linhas depois de ter à tanto custo se libertado da casca que a impedia de amar novamente e se libertado por mim e só po mim e me oferecer todo o seu amor e o seu corpo e o prazer que ela sabe proporcionar tão bem e tudo isso foi parar sabe deus como na boca do meu estômago e assim eu me envenenei a mim mesmo com minha ingratidão pois o trovão me abriu a boca e me arrancou o grito de prazer que eu sentia sozinho sozinho enquanto gozava também sozinho da felicidade de estar sozinho novamente depois de ter estado tanto tempo sozinho e a solidão ter me proporcionado tantas mortes e assim na medida em que eu tomava consciência do meu autoinvenenamento eu gostava e me martirizava se sou realmente esse filhodaputa ingrato ou se toda esse martírio solitário e induzido não é também fruto de cem anos de solidão isso tudo eu via na minha faca lambuzada do sangue jorrando da garganta dela após oferecer pra esse pivete aqui alguns trocados de amor que ela aprendeu a cultivar depois de ter passado ela também por pessoas que selavam uma após a outra as comportas dos canais do tanto de amor que ela urgia em torrenciar logo ela meu deus logo ela que tanto amor tem pra me dar e não pensem vocês que o amor dela é tanto que me sufoca desse clichê metafórico eu não farei uso ah logo ela meu deus tudo isso é muito prum pivete sentado na privada com as calças arriadas o pau na mão e a boca pateticamente aberta em O que abriu assustada por um trovão parecendo ao pivete o grito de lamento de deus e do coro de todas as pessoas do mundo que subitamente o descobriram em flagrante e a vergonha toma conta do banheiro pois ela sabe ah meu deus ela sabe ela sabe todos sabem que eu a traí comigo mesmo e o céu ficou ficou quieto de novo o trovão passou

domingo, janeiro 17, 2010

Ó dor


a dor
palavra que sente

sobre o nosso corpo
ou mente

tortura o sabor
da vida
com um gosto acerbo

sensata
a pele repele
o líquido amargo

ardor?
não, só dor.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Do que sobra

Música, imagens e palavras.
Meu mundo parece pintura de amador.
Traços imperfeitos contornando minha liberdade de sentir,
de viver, de amar.
Do ponto, me sobram as reticências.

É esta minha maneira de viver o improvável,
O incerto, o que transgride e;
Amar o instante que me soma aos dias.
E me sobra a falta de tempo,
Às vezes, a falta de tato.

Tela bem colorida, borrada pelos sustos e repentes destes
sonhos que cismam pesadelos com toque de negro humor.
No fim, me sobram os risos de tudo.

Céu e Lua dividem o meu dia.
Na mesma tela, na mesma música e na mesma poesia.
Do óbvio e constante, me sobram os encontros entre o a noite e o dia,
Bordando as faces dos escândalos entre os sonhos e fantasias.

E, embora eu não entenda nada de nada,
Nem de tinta ou melodia,
Sei que corre arte nas veias,
Faltando sempre uma dose de agonia.
E, de tudo que me sobra, vou fazendo poesia.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Amarelo

A cor deste ano
A cor desta flor
De cor eu sei
Que cor é este amor
Amei

Mimo de novo ano
Feito por fadas
O pai sol
E a mãe terra
Geraram o presente
De um futuro

Rosa,
Mas de outra tonalidade
Tom quente de energia
De luz e de alegria
Flor de decisão
Além de amizade,
Rosa.

Um elo
Com teu pedido e um aceite
Por inteiro
Nada de farelo
A linda cor deste ano
É Amarelo

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Antes Menina

Cheiro de mato e terra molhada
Capim que corta os braços
Pele suja, impura e suada

Dança das folhas, cinzas de Lua
Fuga imprevista e desordenada
Respira, suspira, ofegante, cansada

O sangue que pinga das mãos
Retrato da alma lavada
Antes menina, agora assassina e estuprada

terça-feira, janeiro 12, 2010

O que somos?

Nos momentos em que ficamos sozinhos e em silêncio é que começamos a pensar e a imaginar hipóteses. Começamos a criar teorias e raciocinar a respeito de teorias que vão muito mais além da imaginação ordinária de um ser humano.
Começo a imaginar se não somos máquinas. Sei que soa estranho e um tanto quanto contraditório, mas estou começando a acreditar nisso. Imagino que somos produtos de uma grande corporação onde nossas retinas já foram registradas, nossos perfis rotulados e nosso comportamento estudado. A cada momento, a cada situação nós somos testados e avaliados.
Seja no limite da dor física ou no limite da dor psicológica. Seja na solução de um problema, ou na superação de um ato heróico. Seja suportando um turbilhão de acontecimentos ruins ou na calmaria de uma vida monótona, onde nada acontece.
Acredito que tudo que vemos e ouvimos servem como microfones e vídeo câmeras para denunciar aquilo que a pessoa – ou nesse caso, a máquina – ao lado está fazendo. Mas ainda não compreendo como podemos ser avaliados quando estamos sozinhos, sem ninguém por perto. Talvez um sistema de leitura de pensamentos. Por mais que a máquina humana seja uma das coisas mais grandiosas e precisas já colocadas na Terra, ainda acho que existe uma tecnologia maior, àquela que nos controla e nos estuda. Àquela da qual nos expõe ao nosso limite; que nos testa de uma forma impiedosa, mesmo quando não temos mais forças para seguir adiante.
Outra possibilidade da qual eu não creio muito, é da que seria o ser humano um Deus. Um ser incrivelmente poderoso capaz de se colocar em situações extremas, sem mesmo se dar conta que sua própria vontade é, apenas, se testar. Somos capazes de raciocinar em velocidade superior a qualquer processador já desenvolvido. Nossos olhos enxergam cores da qual nenhuma máquina fotográfica é capaz de registrar. Nosso organismo é capaz de atuar, sem sequer notarmos, contra qualquer coisa que venha ameaçar a nossa saúde. Nossa existência permanece incontestável diante da incrível e intolerante força da mãe natureza. Nós somos seres superiores e nem mesmo sabemos ou nos damos conta disso.
Mas é possível que tudo isso tenha sido implantando em nossas mentes pela organização da qual retêm nossa patente. Sendo assim, podemos ser apenas fantoches ou ratos de laboratório de um propósito muito maior àquele que imaginamos. Fico sentado em meu quarto olhando ao meu redor e pensando nisso. Sei que em um caso podemos nos danificar ou sermos substituídos por algo mais avançado, e sei que por outro lado, podemos perder nossas forças se não tivermos nossa própria crença. Fico me questionando e tentando entender o que realmente somos. Máquinas ou Deuses?

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Brincadeira inocente

Que visão sublime!
Foi num domingo sem sol, quando o céu era um manto branco
Cobrindo o mundo com uma alvidez de neve,
Que me pareceu que estava imerso, inerte,
Suspenso acima de toda inocência perdida.
E, não sei se foi o dia dos namorados,
Cuja véspera talvez despertasse antes,
Mas os casais, abraçados, riam pelas ruas,
Eles também brancos, protegendo um ao outro
Do frio cortante,
Sorrindo, e sorrindo, iam e vinham, aos montes.
Não sei se foi a melancolia dominical
Ou as farpas de minha alma
Ou mesmo a inveja declarada de meus olhos.
Pois eu vi um pai e uma filha
(ou assim me pareceram)
De 50 e 14 anos,
Dedos entrelaçados.
Ele, paletó e gravata
Ela, saia rodada, gótica, de rendinhas,
Tão magra, tão branca, tão pequena.
Era uma bailarina numa peça de balé
A deslizar sobre uma pista congelada
Um personagem anunciador, um corista exaltador,
Num cântico puramente corporal.
(eram os seus delicados gestos de mão e sorriso imaculado)
Bem, brincavam à maneira de pai e filha
…no começou assim julguei,
mas a brincadeira continuava.
E eles, abraçados, quase dançavam.
Os pequenos pezinhos dela
Sobre os duros sapatos marrons dele
Deixavam-se conduzir pela rua úmida
Ele a abraçava, e, como já disse,
Não sei se foi o dia dos namorados,
Mas, ah!, quanta intimidade.
Quanto amor, quanta ternura
E… ternura demais. Transbordava. Fui atingido.
Ela ria, seu rosto era um arquétipo da felicidade.
Ele… também! Mas, seu sorriso me parecia diferente.
No outro lado da rua, casais se aconchegavam.
E eu não via tanta ternura
Eu não via tanto amor,
Não havia tanta paixão
Como havia naqueles dois.
Ninguém dançava; pois o frio era demais.
Mas eles, ali, trocavam afagos e carícias tantas
Que, oh, minha mente, talvez machucada demais,
Quiçá mal acostumada, sempre antecipa a crueldade
Quando a felicidade chega em grandes quantidades.
Fui assaltado: renderam-me, roubaram a ternura que eu via,
Afanaram todo o amor, aqueles pensamentos que me vararam.
Vi, pois, o pai e a filha atravessarem a rua,
Se abraçando, brincando, dançando,
(seus dedos nunca desentrelaçados)
E os vi chegando em casa,
Abrindo a porta,
Sempre flutuando, sempre rindo,
Vi a mãe retirar-se pro quarto.
Vi o avô cochilar na poltrona,
E vi a brincadeira continuar em outros cômodos
Com outras luzes. Com outras cores.
Com outras temperaturas,
O inverno já se esvaindo,
A dar lugar ao calor dos trópicos,
Às fronteiras abafadas, quentes,
Relevos montanhosos, árduos,
E suculentos frutos tropicais.
A menina ria. O pai também.
De repente, ela aperta forte a mão dele.
Suas unhas cravam na pele austera.
No final,
Para ele, ela ainda ri.
Ou é ele quem ri.
Pois, e perdoem o plágio,
Tanto como ao gozo,
Meu Deus, como o riso se assemelha ao choro!


Postado originalmente em docevomito.blogspot.

domingo, janeiro 10, 2010

Foi você

aquele silêncio
gravado sobre a pele
apalpou
a sua mão na minha

o que sobrou foi
cheiro
sabor
textura
de algo inefável

o horizonte ainda não alcança
pois
não há limite
no coração de gelo
que
de tanto calor
transformou-se
rio
nesse silêncio líquido

sábado, janeiro 09, 2010

Sobre o Sujo e o Mal Lavado

Inventaria uma condição
Em que eu pudesse
Limpar tua sujeira
Esvaziar os copos

Vasculhando teus escombros
Feito uma serviçal
Recuperando este nojo
Que vibra e lateja

Trocando tua roupa
Lavando a última ruga
Claustrófobica em bolos azedos
Em vícios asmáticos

Andando nos limites
Desta poesia barata
E tu me ofereces
Os arames e farpas

E diz-me dos teoremas
De uma serviçal ingrata
Existe uma corrupção
Em cada órgão do teu corpo

Das janelas do teu quarto
Abafado e viscoso
Respirei no trânsito das paredes
E nem nossa sede construiu.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Ausente

Quero me doar em versos...
E me dôo mais à medida que aumenta tua fome...
Quero mesmo que não reste nada de mim.
A não ser novas linhas que contem nossa história.

Se pudesse ler minhas entrelinhas...
Saberia que em cada vírgula,
Respiro um pedaço teu.

Ah, se neste teu silêncio tivesse guardado mais de mim...

Nas noites vazias, vou somando as coincidências.
Sinto que foi feito sob a medida das minhas loucuras.
Não há nada em você que eu não goste muito.
Sinto que podemos ser...

És o portador das minhas fórmulas de amor...

O tempo te guardou em mim...
E ainda que a distância persista...
Rompo as barreiras entre passado e presente...
Te tenho em meu futuro...
Futuro do pretérito perfeito!!

Pode ser que seja...
Pode ser que virá...
Mesmo que ainda esteja ausente...

quarta-feira, janeiro 06, 2010

A Folha

O Sol se põe e a vida falha
Sinais de fracasso/cansaço
Hoje não sou mais folha seca
Não faço parte da paisagem de outono

O vento sopra todos ao meu redor
Fico estagnado, pronto para adubar
Rasgos no que foi um caule
Buracos em meu corpo úmido

E o vento canta
Melodia inquieta de passos
Farfalhos
Grito sem ser ouvido
Pedaços são levados

Foi-se o outono
Foi-se o inverno
Foram-se todos
Fico... Sou consumido/moído
Não ouço mais o canto

Debaixo da terra agora sou feliz
Sou abraçado... Enterrado sob teus passos
Andas sobre mim, escuto teu choro
Não me quis folha
Não há de me querer esterco

No desespero cavas
Finca teus dedos na terra
Tuas lágrimas me atingem
Partes de mim te tocam
Debaixo da unha eu me instalo

São apenas alguns minutos
Estou em teu corpo, vivo... viva!

Lava
Partes de mim
Tive você por instantes
Morto, agora pairo/suspiro
Mas ainda vivo em você

terça-feira, janeiro 05, 2010

Branco

As lembranças ainda percorrem o meu pensamento. Meus ouvidos ainda não estão acostumados com o silêncio e o simples sopro do vento faz com que tudo ecoe. As vozes se calaram, as cores se foram. Nada mais sobrou.
O gosto amargo em minha boca confirma que o tempo passou, meus olhos não se fecharam por apenas um instante. Fecharam-se por tempo demais.
Minhas lágrimas secaram no canto dos meus olhos, assim como as últimas palavras perderam a força no fundo da minha garganta. O som se foi!
Mas as lembranças continuam vivas em minha cabeça. Tudo é visto e vivido na mesma velocidade que o som. Talvez, até mais rápido do que isso. Sonhos conquistados, desafios feitos, novas metas traçadas. Conquistas foram celebradas, perdas foram lamentadas. O tempo, como sempre, alheio a tudo isso, mantém sua fiel marcha. Rumando adiante, nunca acelerando, nunca desacelerando. Constante.
No meio disso tudo, estamos nós. Homens vulneráveis, frágeis de corpo e mente. Facilmente comprados, persuadidos, derrotados. Homens ordinários, capazes de sonhar e desejar. Capazes de pedir e mandar. Incapazes de agir.
Sinto o vento em meu rosto. Ouço as ondas quebrando e respiro o doce aroma de uma nova manhã. A areia sob meu corpo se mistura com pétalas de diversas flores. Copos plásticos, garrafas de champagne e embalagens dos fogos de artifício estão espalhados na primeira manhã do ano. Abro os meus olhos com dificuldade, mas o sol ofusca minha vista. Não consigo enxergar por um bom tempo, e quando consigo, tudo que vejo é... branco!

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Retrospectivas e Perspectivas

Dia de ressaca.
2009 foi bebido em goles largos.

Para as promessas não cumpridas: vinho.
Para os planos pela metade: cerveja.
Para toda felicidade vivida, apesar de tudo: CAIPIRINHA!

E todo dia 31 é a mesma saga.
Retrospectivas, perspectivas, promessas, planos...
E para a virada: festa!
De preferência, festa que tenha show pirotécnico.
Dá impressão que nossa vida será sempre aquela noite escura com faíscas de luz coloridas, desenhando flores gigantes em nossos sonhos.
Mas se a festa não tem fogos e tiver algo que deixa de fogo, é esta mesmo.

Como fazemos planos!
Dedicamos minutos e minutos para mil tipos de simpatias.
Para o amor: calcinha rosa.
Para dinheiro: uma peça dourada.
Uvas, sementes de romã, escrever bilhete e plantar na roseira e por aí vai.

Todos os anos: - Este ano vai ser diferente!
E... é!
Talvez melhor, talvez pior.
12 meses é muita coisa!
365 dias, mais coisa ainda.
Dá tempo de rir, chorar, abraçar, se sentir um lixo, se sentir um luxo...

Se você parar em uma parte qualquer de um rio,
Aquela água de ontem, não é mais a água de hoje.

O mundo não pára.

Votos, desejos, simpatias, sonhos, planos, fé.
Nós, seres tão humanos em busca de mais uma dose de felicidade.

Retrospectivas das saudades,
Perspectivas dos sorrisos que vamos sempre inventar.
Retrospectivas das realizações e dos planos pela metade.
Perspectivas de nós mesmos, inventando a saudade de ontem.

Será um ano diferente.
Porque as águas que correm os rios, se renovam.
E embora saibam para onde correm, nem sempre cumprem o mesmo trajeto até que cheguem ao seu objetivo.

2010 será um ano diferente.
Porque todos os anos são.

E porque o desejo é sempre o mesmo:

SER FELIZ!