terça-feira, fevereiro 09, 2010

Vampiro sofredor

Sempre fui uma criatura da noite. Filho da escuridão, também conhecido como Solidão. Meus olhos não mais enxergam como antigamente, minha sede nunca mais se calou. Nunca fui capaz de matar, nem mesmo de fazer o mal. Não sou filho da maldade, sou filho da escuridão. Meu nome é Solidão.
Saio pela noite em busca de uma vítima, em busca de uma companhia. Saio na caça da mulher que preciso para poder mudar de nome. Quem sabe deixo de ser filho da escuridão e não me torne um filho da luz?
Ela sempre está no mesmo lugar e sempre foi minha amiga. Mas no momento em que devo atacar, torno-me fraco. Fico encantado, extasiado e não consigo fazer nada, além de amá-la em segredo. Há tempos eu convivo com esse problema e não consigo fazer nada para superá-lo.
Talvez ela carregue um crucifixo no peito, ou talvez o seu olhar me lembre o brilho do sol. A única coisa que posso dizer, é que ela possui algo que me impede de prosseguir, algo que me deixa fraco, só, e me faz lembrar o meu nome. Meu nome é Solidão, filho da escuridão.
Suas palavras, seu olhar, seu sorriso. Não paro de pensar em diferentes formas de atacar. Posso ser agressivo, posso ser surpreendente, posso ser carinhoso, mas não importa o jeito que eu planeje, no momento do ataque sei que irei fraquejar. Não compreendo isso, eu sou filho da escuridão e não da fraqueza. Não sou filho do sofrimento, então por que sofro tanto?
Eu caminho pelas noites escuras, ando só pelas ruas da cidade. As lágrimas brotam de meus olhos e sinto o medo dominando meu corpo. Ouço a música que ela gosta e não consigo raciocinar em paz.
Busco por uma ajuda, ou por uma resposta. Clamo pela escuridão, rogo para as estrelas, mas nada obtenho como resposta. Nada! Ouço sua voz, mas a minha parece não chegar aos seus ouvidos. O mundo cai sobre minha cabeça, meu rosto se torna cada dia mais pálido, e as lágrimas que eram rotineiras, tornaram-se hábito.
Não me alimento mais, não sorrio mais. Deixo de ser filho da escuridão para me tornar filho da dor. Meu nome é Sofredor. Sinto a cabeça latejando e a dor corroendo meu peito. Já se passaram anos e não consegui progredir nesse secreto amor.
Resolvo desistir da minha presa, abandonar a caça. Dirijo o meu carro para longe, onde ninguém possa me encontrar. A noite está perfeita, as estrelas me observavam e a lua sorri diante de minha desgraça. Meus dedos se enterram na terra úmida e cavei até minha mão sangrar.
Deitei em meu túmulo e com dificuldade me enterrei. A princípio o desconforto tomou conta de meu corpo. Eu queria chorar, espernear, gritar por seu nome, mas me controlei. Minha mente se acalmou e sua imagem começou a abandonar minha cabeça. Deixei de ouvir sua voz, e não mais vi seu sorriso em minha mente. Não me senti completo, mas me senti satisfeito. Consegui resolver parte de meus problemas.
Mas foi só quando o véu da morte cobriu meus olhos que percebi que meu nome é Sofredor, filho da dor, e que nunca fui um vampiro.

4 comentários:

  1. Grande Léo! Acho que ele estava na verdade sendo vampirizado.

    Muito bom, meu velho!

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  2. Que isso, parece um discurso "EMO"...
    Mas mandou bem Leonardo, mas estou começando a sentir falta dos contos sangrentos e com finais inesperados.
    Pensei que vampiros só morressem com estacas de madeira cravadas em seu peito ou com balas de prata e queimados pela luz do sol, vc acabou de destruir tudo que eu acreditava... hehehe Dah.

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  3. Rs... e eu gosto dos vampiros! Antes Solidão, que Sofredor. Ou não? A morte, pelo menos, mata a dor. Enfim...

    Léo e seus finais!!!

    Adoro, sempre!

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  4. Huahua vampiros.... muito bom o texto.
    Bjos

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