segunda-feira, novembro 23, 2009

Preguiça revisitada às avessas

Já acordo com meu rosto queimando.
É o sol que, grosseiro, nos acorda, querida.
Ai de nós, que trabalhamos a noite toda,
No chão desenhamos constelações de suor
E edificamos nosso reino sob a égide de uma Lua
Que, sendo senhora tua, a mim transformou em rei
Mas nós, querida, ai de nós, quantos castelos erguemos à noite?
De quantas amarras e lacres nos livramos em seus calabouços
E usando tão- somente o calor do corpo?
Não entendem o barulho dos carros, as pessoas, a gritaria,
O relógio, os sinos da igreja, o repórter da TV, o locutor do rádio velho,
Não entendem, berrando às seis da manhã, o nosso espreguiçar.
Tentam nos impor o trabalho, tão cedo;
Tentam nos colocar de pé, sem medo de tombarmos exaustos;
E pela janela grita em uníssono o coro da sociedade
À cruz e fogo, a pregar contra a modorra dos vadios.
É isto que somos agora, querida. Dois vadios,
Dois vagabundos deitados o dia todo.
Dois náufragos nos pântanos da morosidade,
Agarrados desesperados às tábuas do entorno
Do navio em que singramos, à cada noite,
A longa tormenta do nascer do dia-a-dia.

6 comentários:

  1. melhor impossível!
    essa preguiça tem qualidade!
    parabéns!

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  2. E viva os vadios dos versos...rsrs

    Puta merda Leo, cê tá demaaais heim! rs
    Cada dia te leio, sinto aquela invejinha boa e indico: Pode ler que esse cara manda bem e é folgado ainda...rs

    A partir de hoje a preguiça será sinônimo de poesia pra mim, daquelas levinhas, tomadas por um diálogo interno e travesso.

    Um dos teus melhores!

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  3. E viva o ócio produtivo! kkkkk
    As noites são tão produtivas quanto o dia, o problema é que a maioria não enxerga isso.

    Muito bom, parabéns.
    Beijo! ^^

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  4. Deu preguiça até pra comentar! HEHEE!
    Mandou bem xará!

    Valeu!

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  5. A única preguiça que não dá é de ler vc, Léo! Muito bom! Parabéns!

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  6. "Tentam nos impor o trabalho, tão cedo;
    Tentam nos colocar de pé, sem medo de tombarmos exaustos;
    E pela janela grita em uníssono o coro da sociedade
    À cruz e fogo, a pregar contra a modorra dos vadios."

    Alguns ainda conseguem com a preguiça do dia a dia...

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