Rufam os tambores, a cortina se abre;
O espetáculo se inicia.
***
- Enquanto aí vives tua vida
Envolto em afazeres, deveres... prazeres?
Tenho tido minha sina; por ti, não vista.
Da morte fria e gélida da desistência
Nada se espera depois.
E, como toda morte, não permite resistência:
Sem atrito, só há o frio, pois.
Aí jaz nosso amor; debaixo dessa lápide trépida
Nefasta e gélida, coberto pelo tempo e terra
Que um coveiro num buraco fétido jogou.
E hoje visito essa lápide.
Em nossa tumba vejo (através de fumaça e espelhos)
Nós dois, coveiro e cadáver, de mão dadas,
Revirando sempre juntos o cal com a pá
Cavando a terra como cavamos um no outro
Feridas na pele, que tão logo expostas,
Com terra, nos apressamos em tampar.
***
E é sutilmente que os personagens se esvaem,
Ao leve sopro da uma brisa, desvanecem no ar.
Fecham-se as cortinas, cessam os tambores.
Um homem de cartola toma o palco.
Com um gesto de mão, ágil e delicado,
Também sua imagem se distorce
Como se o ar fosse um lago de águas turvas
E com seu corpo ondulante em meio à névoa
Num solilóquio e com trejeitos de mágico
Recita ao mesmo tempo um epílogo e um epitáfio
Como se dissesse adeus o próprio espetáculo:
- E, por ora, não se assustem.
Pois, sou nada a não ser um enganador:
Camuflo pessoas em palavras
Disfarço morte em amor.
(Por favor, perdoem o atraso [de alguns minutos]. Não vai se repetir.)
terça-feira, novembro 10, 2009
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Leo, Leo...rs O atraso fica pequenininho diante desses versos! rs
ResponderExcluirMe senti ali, em meio ao espetáculo camuflada com as palavras participando do epitáfio.
Palmas!!!
"E é sutilmente que os personagens se esvaem,
ResponderExcluirAo leve sopro da uma brisa, desvanecem no ar.
Fecham-se as cortinas, cessam os tambores."
Como ao fechar um livro daqueles em que nos apaixonamos e odiamos as personagens que nos acompanharam por dias ou horas de mergulho em fantasias. Excelente Leonardo!
Reverências...
Carioca! rs Visceral é pouco pra você!
ResponderExcluirFoi um Cordel as avessas, um Manoel de Barros mais alucinado do que de costume.
" Trejeitos de mágico"
Concordo!
Parabéns!
E a platéia, gélida, de pé se levanta e aplaude as mais emocionais palmas e vai embora, mas o espetáculo foi eterno!
ResponderExcluir"- E, por ora, não se assustem.
ResponderExcluirPois, sou nada a não ser um enganador:
Camuflo pessoas em palavras
Disfarço morte em amor."
Nas camuflagens e disfarces iludo a vida, as pessoas e a própria poesia.
Tá locooooo!!!! hehehe!
ResponderExcluirNum é a toa que o cara chama Leonardo né?! hehe!
Boa xará, não há nada melhor do que iludir a platéia... Faremos disso a nossa missão por aqui!
PS: Alguém quer trocar o dia comigo? vai ser barra entrar depois disso tudo!!! heehehe!
:0!!! Gente! ESpetáculo. Me tira daqui!! rs
ResponderExcluirLeonardo!!! Me emocionei d+. Me senti parte de cada letrinha. Parece que eu lia pedaços de mim.
Parabéns!
Débora Andrade
:0!! Leonardo! Me emocionei d+! Parabéns e MUITO parabéns!
ResponderExcluirParec que em cada verso eu lia um pedaço de mim. Cada cena, um "ato" ilusório meu.
Lindo d+.