terça-feira, novembro 10, 2009

O teatro ilusionista

Rufam os tambores, a cortina se abre;
O espetáculo se inicia.

***

- Enquanto aí vives tua vida
Envolto em afazeres, deveres... prazeres?
Tenho tido minha sina; por ti, não vista.

Da morte fria e gélida da desistência
Nada se espera depois.
E, como toda morte, não permite resistência:
Sem atrito, só há o frio, pois.

Aí jaz nosso amor; debaixo dessa lápide trépida
Nefasta e gélida, coberto pelo tempo e terra
Que um coveiro num buraco fétido jogou.

E hoje visito essa lápide.
Em nossa tumba vejo (através de fumaça e espelhos)
Nós dois, coveiro e cadáver, de mão dadas,
Revirando sempre juntos o cal com a pá
Cavando a terra como cavamos um no outro
Feridas na pele, que tão logo expostas,
Com terra, nos apressamos em tampar.

***

E é sutilmente que os personagens se esvaem,
Ao leve sopro da uma brisa, desvanecem no ar.
Fecham-se as cortinas, cessam os tambores.
Um homem de cartola toma o palco.
Com um gesto de mão, ágil e delicado,
Também sua imagem se distorce
Como se o ar fosse um lago de águas turvas
E com seu corpo ondulante em meio à névoa
Num solilóquio e com trejeitos de mágico
Recita ao mesmo tempo um epílogo e um epitáfio
Como se dissesse adeus o próprio espetáculo:

- E, por ora, não se assustem.
Pois, sou nada a não ser um enganador:
Camuflo pessoas em palavras
Disfarço morte em amor.



(Por favor, perdoem o atraso [de alguns minutos]. Não vai se repetir.)

8 comentários:

  1. Leo, Leo...rs O atraso fica pequenininho diante desses versos! rs

    Me senti ali, em meio ao espetáculo camuflada com as palavras participando do epitáfio.

    Palmas!!!

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  2. "E é sutilmente que os personagens se esvaem,
    Ao leve sopro da uma brisa, desvanecem no ar.
    Fecham-se as cortinas, cessam os tambores."

    Como ao fechar um livro daqueles em que nos apaixonamos e odiamos as personagens que nos acompanharam por dias ou horas de mergulho em fantasias. Excelente Leonardo!

    Reverências...

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  3. Carioca! rs Visceral é pouco pra você!
    Foi um Cordel as avessas, um Manoel de Barros mais alucinado do que de costume.

    " Trejeitos de mágico"

    Concordo!

    Parabéns!

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  4. E a platéia, gélida, de pé se levanta e aplaude as mais emocionais palmas e vai embora, mas o espetáculo foi eterno!

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  5. "- E, por ora, não se assustem.
    Pois, sou nada a não ser um enganador:
    Camuflo pessoas em palavras
    Disfarço morte em amor."

    Nas camuflagens e disfarces iludo a vida, as pessoas e a própria poesia.

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  6. Tá locooooo!!!! hehehe!

    Num é a toa que o cara chama Leonardo né?! hehe!
    Boa xará, não há nada melhor do que iludir a platéia... Faremos disso a nossa missão por aqui!

    PS: Alguém quer trocar o dia comigo? vai ser barra entrar depois disso tudo!!! heehehe!

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  7. :0!!! Gente! ESpetáculo. Me tira daqui!! rs

    Leonardo!!! Me emocionei d+. Me senti parte de cada letrinha. Parece que eu lia pedaços de mim.

    Parabéns!

    Débora Andrade

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  8. :0!! Leonardo! Me emocionei d+! Parabéns e MUITO parabéns!

    Parec que em cada verso eu lia um pedaço de mim. Cada cena, um "ato" ilusório meu.

    Lindo d+.

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