Creio que já sabes tu destes mares
Tão azuis, em que ando cá caminhando pra mim.
Minha proa brilha, tanta é a limpeza,
Tanta é a ausência destes revoltados marinheiros teus
Que alvoroçam e embrulham tua carcaça;
Mas, Ah, à falta da cachaça, tu, corsário, bucaneiro
De mares que não adentro há tempos,
Tempos tantos que a limpeza me amordaça a boca
E minhas súplicas por vida – ventos, tempestades! -
Morre sufocada pela calmaria – à falta da cachaça
Minha proa e prancha flutuam desertas
E ando feito fantasma
Numa nau de papel
Na cabeça de uma criança gorda
Que à cama foi mandada
Quando ainda longe a madrugada.
E tu, temeroso por uma revolta
Ou precavido pelas tais
Parece esquecer que, ao casco, quando quebrado,
Só restam lágrimas e chuvas acima,
E o abismo abaixo
(espero que saibas da inutilidade de chuvas e lágrimas à deriva num oceano)
Pois veja: depois de tanto reclamar,
contra a vontade, a vida me tomou de assalto!
E que surpresa!
Encontrar vida não no sangue de inimigos
Nem no calor do rum,
Mas no idílio do sutil caminho
Que faz o fresco fluxo da brisa
No respirar tranquilo do corsário
Que enfim senta para descansar.
segunda-feira, dezembro 07, 2009
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Um fundo do verso é o local mais adequado do mar, sempre. Pq é o único fluxo que corre paralelo a qualquer realidade.
ResponderExcluir"espero que saibas da inutilidade de chuvas e lágrimas à deriva num oceano"
Ainda há quem faça dos afogamentos abrigos...
Lisérgico!
Brilhante, xará!!!
ResponderExcluirRealmente deixando o leitor navegar nesse belo poema...
Quando o rum não trouxer mais sabor para um navegante, nada melhor do que a brisa para nos lembrar que ainda estamos vivos!
Meus parabéns!
COTIDIANO!!!
ResponderExcluirBom, isto, viu!!?
"E minhas súplicas por vida – ventos, tempestades! -
Morre sufocada pela calmaria – à falta da cachaça"
Acho que me vi um pouco nestas linhas acima!!
Muito bom!
q q é idílio mesmo?
ResponderExcluirMarcelo, meu companheiro de leituras de Bukowski.^^
ResponderExcluirGeralmente um idílio é um poema curto com temática lírica ou com passagens em lugares tranquilos. ( vida campestre, marítima...)
Aqui o Leo aproveitou o mar para descrição de uma vida sossegada.
Tanto é que, se você for ler Bocage vai encontrar vários textos com temáticas marítimas e embasadas no idílio.
Resta saber, se o idílio que o Leo cita ali nos últimos versos é em sentido figurado. rs
É exatamente isso que a Natácia falou. =)
ResponderExcluirSentido figurado... que belo isso numa poesia!
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