terça-feira, dezembro 01, 2009

Monumento à Goethe

Sim, sou apenas um viandante, um peregrino sobre a terra! E vocês são algo mais do que isso?

Werther,
Sou levado a crer, após vivenciar tão intesamente teu sofrimento, de sorver do mesmo cálice que sorveste até a última gota desse amargo vinho, de ter sentido na têmpora direita o derradeiro som de pólvora que foi a despedida do mundo pra ti, e – Deus sabe!, tanto quanto ti!

Trocaste palavras íntimas com teu amigo, e no entanto, à despeito de sua inocência no tocante ao fato de não florear seus relatos com artifícios poéticos, o resultados dessas coisas raramente faz juz a intenção de quem se arrisca a exprimir seus sofrimentos em palavras.

Que dirias tu, companheiro de angústias, se visses no que que se tornou o teu desespero, a tua jornada, a tua paixão, tuas lágrimas, tua morte? Ficarias feliz? Indiferente? No entanto, sobre tais conjecturas, abstenho-me de comentar. Tu já deixaste bem claro teus pensamentos e opiniões à respeito do sofrimento dos homens e como eles se relacionam com a poética.

E… também à despeito da grande distância de épocas, costumes, morais e hábitos que nos separam, o cerne dos sentimentos nunca mudou! Na onda de tuas palavras minha mente agora contempla pensamentos sinistros, como tantos outros já o fizeram.

Sim, pois também possuo uma Carlota, como esses tantos outros. E para resguardar-me e me manter distante de tais considerações sobre a minha vida e morte, deparo-me com tuas palavras. Quem sabe se tu tivesses tomado contato com palavras semelhantes em outra época… quem sabe…

Mas que são estas palavras contra o fato em si? Como disseste, se pudesse eu comprimir esse vazio contra meu coração, haveria algo com o quê preenchê-lo. No entanto não há. E nada posso fazer.

Hoje, catedrais e templos de conhecimento estão erguidos em teu nome. Tornastes símbolo e precursor do romantismo – estrada literária esta que tantos outros, até hoje, após tantos séculos, trilham em suas jornadas. Acusam-te de ter desencadeado uma horrenda onda de suicídios, todos inspirados pelo teu grand finalle, mas vê: creio que tenhas salvado mais vidas do que arrancado. A minha, por exemplo. E esta carta nada mais é do que um agradecimento e um monumento, que levanto agora imponente, mesmo que para ser contemplado somente pelas paredes de meu quarto. Todo monumento, é, no fundo, solitário, assim como a quem ele presta homenagem.



[ Perdoem novamente o atraso e por atropelar um de vocês. Podem postar e deixar o meu pra outra página, eu só não queria passar incólume, mesmo no dia errado, pois o tema muito me agradou ]

2 comentários:

  1. Leo, não tem problema, td mundo anda enrolado com seus afazeres, é só vc ir em opções de postagem e postar como se fosse no teu dia mesmo. Além do mais, o teu texto está perfeito, não só encarnou Goethe como citou obras e o movimento Sturm und Drang que foi um dos grandes marcos da literatura.
    Parabéns!!!!!

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  2. Grande xará.... Uma ótima escolha!
    Seu texto realmente está a altura de Goethe!

    Parabéns!

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