terça-feira, dezembro 01, 2009

Gritos na ceia!

Acordos, contratos, negócios! A cada assinatura, vejo as cifras correndo para minhas mãos. Essa vida me agrada demais e só existe um prazer maior do que o dinheiro, o prazer de comer. Seja na primeira refeição do dia ou no almoço. Seja no chá da tarde ou na ceia antes de dormir. Mas confesso que sinto medo da ceia. É a única refeição do dia em que me sinto desconfortável.
Alguns anos atrás, tudo começou e parece que, até hoje, não teve fim. O horário nem sempre é o mesmo. Mas não importa, sempre acontece quando estou desfrutando a ceia. Não basta trazer as melhores iguarias, nem mesmo estar ao lado das melhores companhias; já fiz de tudo, até mesmo, deixar de comer. O horário é o mesmo.
No começo, o som que ouço é de algo sendo arranhado, como se um cachorro estivesse do lado de fora e tentasse entrar. Pensei que fossem ratos ou qualquer outra coisa do tipo. Mas após isso, começam as pancadas. São altas, perturbadoras. Não compreendo como as outras pessoas não se sentem incomodadas – confesso que nunca falei sobre isso com nenhuma delas.
O pior vem em seguida. Após as pancadas, eu ouço a voz, os gritos. Deus, os gritos! Nesse momento é quando eu interrompo a minha refeição e tento me recolher. Mas não adianta, os gritos me perseguem. Somente após uma ou duas horas que eles se calam, adormecem. E é nesse momento que eu adormeço.
Não tenho como afirmar, mas estou quase certo de que isso começou dias depois do falecimento da minha esposa. Os gritos lembram sua voz. São como se pedissem ajuda, como se pedisse para que a tirassem de lá. Ela estava morta quando a enterramos, o médico confirmou. Poderia ele estar enganado? Poderia ela estar viva? Venho pensando nisso há dias. Lembro-me que ela faleceu no começo da tarde. Mas... e se ela ainda estivesse viva? E se ela tivesse apenas adormecido? Se isso for verdade, ela acordaria algumas horas depois... Acordaria na hora... da ceia!!!

:::: Edgard Allan Poe retratou em diversos contos que escreveu, sua aversão e o terror que sentia de ser enterrado vivo. Seu maior medo era de sofrer de catalepsia, doença que foi retratada na sua personagem Lady Madeline Usher, em um dos seus contos mais famosos no tema: A queda da casa Usher::::

3 comentários:

  1. Poe ficaria orgulhoso meu caro! Parabéns Léo! Passou bem o clima que Edgarzinho sabia fazer como ninguém.

    E aguarde... Ano que vem sai "200 anos de Poe" e eu tô nela (nervoso e ansioso pela receptividade dos leitores).

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  2. Leozito me irrita com a naturalidade em provocar o medo...ahaha
    Muito bom!

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