quarta-feira, dezembro 09, 2009

Onde tudo é branco

Meu cotidiano não cicatriza. É corte contínuo que sangra até a morte que vem ao anoitecer. E morre. Morre fácil ao rever o ciclo se repetir a cada maldito nascer do Sol.

Espero as noites em meu ombro, para que as manhãs talvez nunca cheguem. Mas é ato contínuo, cíclico e irritante. É uma bússola maluca que aponta sempre na mesma direção. É agulha de palha que fura o pensamento tão volátil. Inflama, perfura, inunda...

Meu cotidiano não vale o pão do café da manhã, nem o garfo torto do restaurante de quinta. Na quinta, na sexta... É de segunda a segunda que os alfinetes penetram sob as unhas e mancham o tapete da sala com meu sangue suado de sal e cafeína.

Um maldito relógio de pulso, esperando a chuva embaçar o visor.

E as paredes brancas ao meu redor, me lembrando do ciclo claro de minha loucura amarrada nas costas.

Um dia... O Sol podia morrer.

6 comentários:

  1. Uau!
    muito incrível...Que maravilhosa forma de retratar o cotidiano!
    O final, principalmente, me chamou a atenção...
    "...O sol podia morrer."
    e eu acredito que seria terrível, o dia eterno, sem amanhecer...

    Gostei demais.

    abraço.

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  2. Adorei, Cello!

    Continue assim, pois suas palavras me emocionam.

    Beijinhos sombrios!

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  3. MD Amado... Sempre nos proporciona um terror, mesmo quando esse terror não jorra sangue ou nos apresenta monstros e outras entidades absurdas que habitam sua criativa mente...

    MD Amado nos mostra o terror com a simples vontade de matar o sol!!!

    Brilhante!
    £!

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  4. PUTA QUE PARIU!!! Uauuuu.. me sinto bem assim, hoje! Mas nõa conseguiria com estas palavras. VTalvez por não aceitar a realidade do meu cotidiano. PERFEITO!!

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  5. "...O sol podia morrer".

    Ou, num dia qualquer, nascer diferente, quiçá trazendo um pouco mais do que a claridade cega dos raios tristes das cinco da manhã.

    Não é o cotidiano que nos mata, mas a repetição contínua da mesmice das horas, das velhas charadas cujas respostas são sempre os mesmos desalentos passados, tornados presentes futuros, pela incapacidade do tempo de renovar-se.

    Palavras boas, Marcelo. Como sempre, extrapolam as barreiras impostas pelas linhas poucas que lhes servem de morada.

    []'s

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  6. Eita, Eita! Bravo! Bravo!

    Em certos momentos somos escravos de nossa própria rotina, em outros somos donos de acontecimentos inovadores.
    Nada é permanente, mas por vezes parece ser sempre a mesma visão.

    Perfeito!

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